Dragon Ball na Mídia - TV na ordem do dia
Jornal
Folha de São Paulo, 27/01/02
TV na ordem do dia
Rodrigo Dionisio
A exibição de cenas de sexo, mesmo que insinuado, em "O
Quinto dos Infernos" (Globo) é considerada crime e punida
com multa e prisão. Desenhos com imagens de violência, como
"Pokémon" e "Dragon Ball Z", não podem ir
ao ar. O horário eleitoral gratuito ganha espaço nos canais
pagos.
Essas são algumas das mudanças na TV propostas pelo
Legislativo. Muitas delas afetam diretamente o conteúdo recebido
pelo telespectador. Segundo a Abert (Associação Brasileira das
Emissoras de Rádio e Televisão), há cerca de cem projetos em
tramitação na Câmara com propostas relacionadas ao tema.
"Aí no meio tem de tudo, são apenas projetos", afirma
o advogado e articulista da Folha Luís Francisco Carvalho Filho.
Segundo ele, aqueles que simplesmente pretendem proibir a
veiculação de um tipo de conteúdo, como sexo e violência, já
pecam por poderem ser taxados de inconstitucionais.
"É possível regulamentar a exibição de certos
conteúdos, mas não proibi-la. Na minha opinião, isso
representa um embaraço à liberdade de expressão", afirma.
Antes de virarem leis, essas propostas passam por uma série de
comissões, como a de Constituição e Justiça, têm de ser
votadas na Câmara e no Senado e sancionadas pelo presidente.
Para a assessora parlamentar da Abert, Stella Cruz, muitos desses
projetos são "de momento". Ela cita o caso de um que
proibia a exibição de cenas de violência em telejornais,
motivado pelas imagens do sequestro, no Rio, de um ônibus da
linha 174, em junho de 2000.
"Algumas vezes, conseguimos mostrar aos parlamentares as
dificuldades de implementar certas iniciativas, e há uma
flexibilização na redação dos projetos. Impedimos ainda que
muita coisa ruim seja apresentada", afirma Stella.
Segundo a assessora, a principal questão para as TVs neste ano
é o Projeto de Emenda Constitucional 203, de 95. Aprovado em
primeiro turno na Câmara, o projeto permite participação de
até 30% de capital estrangeiro em empresas de comunicação
nacional, entre outras mudanças. "Todas as emissoras estão
precisando desse dinheiro", diz Stella.
Para a TV paga, um dos assuntos que atraem maior atenção é a
Medida Provisória 2.219, de setembro de 2001. Ela criou a Ancine
(Agência Nacional de Cinema) e estipulou novas regras para o
fomento da produção audiovisual. A íntegra da MP está no site
http://208.184.234.136/mp22192001.htm.
Como determinação da medida, passará a ser cobrada uma taxa de
11% sobre o pagamento de obras compradas no exterior pelas TVs. A
cobrança deveria ter começado já este mês, mas foi adiada
para março.
A medida já está em vigor, e foi escolhido um presidente para a
Ancine, o cineasta Gustavo Dahl. Segundo ele, a taxação só
não está sendo feita porque a agência ainda não foi
aparelhada para a arrecadação e fiscalização.
"Com mais essa taxa, empresas estrangeiras deixarão de
investir, e a qualidade da programação diminuirá", diz o
diretor jurídico da ABTA (Associação Brasileira de
Telecomunicações por Assinatura), José Carlos Benjó.
Além disso, segundo o diretor, o adiamento da cobrança acabou
fazendo com que o cinema nacional ficasse sem incentivo desde
setembro de 2001.
"Alegra-me esse zelo. Espero encontrar essa atitude na hora
do pagamento da contribuição", diz Gustavo Dahl.
Ele afirma que só pagarão os 11% empresas que abrirem mão de
investir o valor devido do Imposto de Renda na produção
nacional, seguindo o disposto na Lei do Audiovisual. Segundo
Dahl, a nova legislação poderá elevar a arrecadação atual,
cerca de R$ 4 milhões anuais, para 80 milhões por ano.
"A TV é sustentada pela publicidade, que é bancada pelo
consumidor. Esse binômio, TV e publicidade, tem uma
contribuição a dar. Televisão é uma concessão pública e
não pode ser usada apenas em benefício próprio", afirma
Dahl.
O presidente da Ancine diz que mudanças na forma de cobrança
podem ser feitas e que tem mantido diálogo com os representantes
dos canais pagos.
Outras propostas de mudanças estão na sessão de Assessoria
Parlamentar do site da Abert (www.abert.org.br).