Dragon Ball na Mídia - História das Histórias em Quadrinhos: o acervo da USP
O
Estado de São Paulo, 16/05/2002 - Caderno 2
História das Histórias em Quadrinhos: o acervo da USP
O que para muitos pode significar coisa de criança, para um
professor-doutor da Universidade de São Paulo (USP) é fonte
permanente de estudo: as histórias em quadrinhos. Coordenador do
Núcleo de Pesquisas de Histórias em Quadrinhos (NPHQ) na USP,
Waldomiro Vergueiro, professor da Faculdade de Biblioteconomia,
quer instituir o Diretório Geral de HQs no Brasil. Para tanto,
vai dar início, em parceria com professores e alunos, a um
projeto de organização e disponibilização de todos os
títulos de quadrinhos já publicados, nacionais ou traduzidos
para o português.
Até agora, o núcleo tem uma base de 270 títulos catalogados. A
previsão é de que, quando o NPHQ chegar a 400 títulos, o
conteúdo já possa ser pesquisado na Internet, ainda no segundo
semestre. O passo seguinte será partir para materiais reunidos
em gibitecas e acervos pessoais de colecionadores. O próprio
professor possui uma expressiva coleção, com pelo menos 15 mil
revistas.
"A princípio, vamos fazer um levantamento de títulos, para
depois registrarmos autores e desenhistas", explica
Vergueiro. O banco de dados concentrará informações desde
1905, quando foi publicada a primeira edição da revista
Tico-Tico. O exemplar serve de referência por ser considerado
pioneiro na linha de HQs. "O Tico-Tico foi muito popular,
baseado no modelo europeu de revistas para crianças. Tinha
quadrinhos, histórias infantis, contos, curiosidades,
desenhos."
Antes do lançamento da revista, o Brasil já 'flertava' com os
comics por meio de sua imprensa humorística. Segundo o
coordenador do NPHQ, chegou a ser editado em São Paulo um jornal
chamado Diabo Coxo, o primeiro ilustrado no País, feito pelo
italiano Angelo Agostini. A carreira de Agostini foi pontuada por
passagens em diversos jornais brasileiros, no Império e no
período republicano. "Agostini tinha um traçado que se
assemelhava muito com o das HQs e, por isso, vários autores o
consideram precursor do gênero", explica. "Inclusive o
logotipo da Tico-Tico foi criado por ele."
Na década de 30, houve a publicação de um suplemento juvenil
nos moldes norte-americanos, no jornal A Nação. Algum tempo
depois, passou a ser vendido separadamente, diante do sucesso que
fazia entre as crianças. Suas páginas esboçavam as aventuras
de super-heróis, como Flash Gordon e Mandrake. As editoras Globo
Juvenil, Ebal e Abril tiveram papel importante no fortalecimento
da indústria de quadrinhos no Brasil.
Na linha de nacionais, os gibis de Mauricio de Sousa são
imbatíveis no quesito popularidade. Mauricio de Sousa idealizou
seu primeiro personagem, o Bidu, em 1959, mas a revista Mônica
só surgiu mesmo na década de 70. "São histórias que são
muito próximas das crianças brasileiras", analisa
Vergueiro.
Nos anos 90, foi a vez dos anti-heróis, criaturas violentas, com
vícios, imperfeitas, no estilo de Volverine, do X-Men, e O
Justiceiro. Na mesma década, surgiram os mangás, comics
japoneses que fazem sucesso no mundo todo. Com a nova tendência,
chegou a febre Pokémon, Dragon Ball e tantos outros, cujos
quadrinhos deram origem a desenhos animados - e vice-versa.
Hoje, o perfil predominante do leitor de HQs é o do jovem de
sexo masculino, entre 13 e 25 anos, que encontra nos
super-heróis uma espécie de válvula de escape, para extravasar
sua agressividade.
Para o professor, falta no Brasil um registro preciso desse
material histórico, diferente do que acontece nos Estados Unidos
e na Europa. "O crescente interesse por quadrinhos nas
universidades me supreendem cada vez mais. Recebo uma média de
cinco a dez e-mails por mês de estudantes que querem desenvolver
trabalhos relacionados ao assunto, mas não encontram
orientadores nem material de pesquisa."
Fundado em 1990, o NPHQ promove reuniões mensais, nos quais são
discutidos textos de comics, atraindo uma média de 20 pessoas.
Há ainda grupos de debates virtuais, aberto a qualquer
interessado, por meio do e-mail [email protected]. Outras
informações podem ser obtidas no site
www.eca.usp.br/nucleos/nphqeca.