Dragon Ball na Mídia - Socos do Oriente

VEJA, 02/04/1997 - Televisão
Socos do Oriente

O charme violento de Yuyu Hakusho, o desenho que destronou Os Cavaleiros do Zodíaco
Ricardo Valladares

Desenho animado japonês tornou-se sinônimo de boa audiência. Foi assim com Os Cavaleiros do Zodíaco, estouro de dois anos e meio atrás, e é assim com Dragon Ball e Fly (Dragon Quest), que, exibidos pelo SBT, fazem 9 a 5 no Ibope contra Xuxa nas manhãs de sábado. Estreiou na semana passada, nos horários das 9h30 e 18hrs, Yuyu Hakusho, desenho que bateu todos os recordes de audiência no Japão, superando o campeão anterior Dragon Ball, há onze anos no ar. Ao contrário de Os Cavaleiros do Zodíaco, desenho destinado ao público infantil, é um desenho para adolescentes que as crianças também gostam. Seu herói, Yusuke, que, quando vivo aturava a mãe alcoólatra e as pancadas dos colegas da escola, volta depois de morto para defender os bons contra os maus.
Desenho japonês é sinônimo de pancadaria, enredos amalucados e exuberância visual. YYH não foge à regra. Não é difícil ver o herói da série socando seus oponentes até sair sangue. Essa violência vem desde os tempos de Ultraseven e Ultraman, que arrancavam olhos e braços dos inimigos depois de ter destruído Tóquio inteira. Speed Racer primava pelos acidentes de carro espetaculosos. O enredo de YYH tb é mirabolante, Yusuke Trafega entre a Terra e o Mundo Espiritual. É um desenho feitos sob medida para agradar aos adolescentes dos anos 90, que cresceram esmagando os crânios de seus coleguinhas no videogame e adoram histórias complexas que nem seus pais nem os irmãos menores conseguem entender. "YYH para mim foi uma surpresa, tem um dos melhores roteiros que já vi", diz o especialista Alvaro de Moya, 66 anos, autor de vários livros sobre quadrinhos e animação.
Licenciamento - O bom desempenho dos desenhos orientais no Ibope não ocorre por acaso. No Japão, o desenho é um negócio levado tão a sério como as novelas no Brasil. Eles ocupam 47% do horário nobre da TV japonesa. As histórias para os desenhos são tiradas dos mangás, revistas em quadrinhos com histórias e episódios. São vendidos 25 milhões de mangás por mês no Japão. Quando um deles faz sucesso, a história logo vira desenho animado e se torna um grande negócio, devido ao licenciamento. De 93 aa 95, YYH faturou 50 milhões de dólares em 150 produtos vendidos, entre camisetas, lenços, guarda-chuvas e até carpetes. Fora do Japão, os maiores mercados desse tipo de desenho são França, Espanha, Italia e países da América Latina - eles fazem pouco sucesso nos EUA e nos outros países Europeus. "Choro, drama, gente se descabelando. Tudo lembra as novelas mexicanas, e latino gosta disso.", diz André Forastieri, editor da revista Herói, especializada em quadrinhos. A esperança dos produtores, pelo menos, é grande. O Brasil é o primeiro país ponto de exportação de YYH, pois o desenho não estreou na Europa nem nos EUA. A Tikara Filmes, que negocia os desenhos no Brasil, aposta nesse apelo para faturar alto com licenciamento, "O que dá dinheiro mesmo são os brinquedos", diz Patrícia Yoshizume, gerente da empresa. Dentro de um mês, devem chegar às lojas brasileiras os primeiros bonecos inspirados na série.