Games - Game Boy Advance
Dragon Ball GT: Transformation
Estilo: Beat 'em up
Data: 9 de Agosto de 2005
Produtora: ATARI/ Webfoot Technologies
Conta-se nos dedos o número de
jogos utilizando a franquia Dragon Ball GT. Contando com Dragon Ball Final Bout
para Playstation 1 e Dragon Ball GT Volume 1 para Game Boy Advance, Dragon Ball
GT: Transformation é o terceiro jogo a utilizar da franquia Dragon Ball GT, isso
se considerarmos que o próprio Final Bout só veio a utilizar do nome da franquia
GT APENAS no relançamento do jogo em 2004, nos EUA e também se considerarmos que
Dragon Ball GT Volume 1 é um jogo (já que este é nada mais que dois episódios da
série comprimidos em um cartucho. Independente de Dragon Ball Final Bout
misturar personagens exclusivos da série Z (Future Trunks por exemplo) com a
série GT, o fato é que se considerarmos o montante de jogos já lançados com a
franquia Dragon Ball, desde 1997 (estréia de Dragon Ball GT no Japão e
lançamento de Final Bout) a 2005 (lançamento de Transformation), temos um número
insignificante de jogos a utilizar desta franquia. Talvez pelo total fracasso da
série no Japão ou pela curta ascensão da série nos EUA no período de 2003 a 2005
(visto que Transformation foi produzido pela ATARI, empresa norte-americana),
mas o que se tem certeza é que assim como a qualidade da série GT é ruim,
Transformation faz jus a mediocridade da série em questão.
Transformation tem o enredo desenvolvido desde o início da saga GT até o fim da
saga de Baby. Desde a transformação de Goku em criança por um desejo por engano
de Pilaf, a busca das esferas pelo universo para impedir que o planeta Terra
exploda, o encontro de Baby e o desfecho da saga. Obviamente, muitos elementos
foram acrescentados ao jogo, como inimigos até então nunca antes vistos na série
e extensão de fases que na série eram rapidamente citadas. A idéias das fases
serem melhor exploradas no jogo é até legal, mas os inimigos não possuem nada de
animador. Em tempo, Transformation é nada mais que um jogo ao estilo beat 'em up
em formato side-scroller, um estilo de jogo de luta de ação horizontal que fez
bastante sucesso nos anos 90, representado por clássicos como Final Fight (CAPCOM),
Teenage Mutant Ninja Turtles (KONAMI) e Streets of Rage (SEGA). Em termos de
coerência, a fórmula beat 'em up não funciona em franquias como Dragon Ball,
face a escassez de personagens devidamente poderosos o suficiente de
descontinuar a trajetória dos personagens controlados, principalmente em sagas
como Dragon Ball Z ou GT. É completamente incoerente controlar personagens
overpowers como Goku em confronto com mini-robôs, soldadinhos extraterrenos,
monstros lagartos e pasmem, humanos possuídos! Abelhas! Tarântulas gigantes!
Verdade seja dita, mas Dragon Ball sempre funcionou melhor como jogo de luta ao
estilo versus, sendo extremamente difícil transportá-lo para outros gêneros. Há
exceções, como Dragon Ball: Advanced Adventure (ドラゴンボール アドバンス アドベンチャー, Doragon
Bōru Adobansu Adobenchā), porém é um jogo que retrata o início de Dragon Ball, o
que torna mais natural a presença de personagens sem grandes absurdos de poder.
Mas tirando o fato desta terrível incoerência, é possível ignorar e se divertir
com o jogo? A resposta é não. Transformation consegue a proeza de ser ruim em
todos os sentidos. Os gráficos, apesar de coloridos estão muito aquém do
potencial do portátil. Visto a maravilha criada pela BANDAI com Dragon Ball:
Advanced Adventure, os gráficos de Transformation fazem feio. E muito!
Os personagens foram criados de qualquer forma, nas mãos de uma equipe que
parece pouco conhecer a obra. O design em stand de personagens como SS4 Goku e
Trunks é algo realmente assustador. Além disso, a animação dos personagens é
extremamente medonha, onde além dos personagens possuírem pouquíssimos frames de
animação, não houve qualquer intenção de deixá-los fluentes, gerando uma
animação totalmente quadro a quadro, o que torna o jogo ainda mais artificial e
com cara de que foi feito nas coxas.
Outro problema é a simplicidade dos ataques, além da inexpressiva variação
destes. Os personagens podem correr, atacar com com soco, sequência de socos,
atacar após correr, pular, atacar após um pulo, voar, correr no vôo, soltar ki
blasts (que consome barra de Stamina/ Ki), ataques com Ki mais poderosos
(consumindo toda a barra de Stamina/ Ki) e ataques corporais especiais (também
consumindo barra de Stamina/ Ki). Aparentemente, uma lista de ataques um pouco
maior do que de outros beat 'em ups conhecidos, mas na prática não é bem assim.
Voar é nada mais que um pulo com menor efeito da gravidade e os ataques
desferidos durante o vôo chegam a ser cômicos de tão mal elaborados, já que a
animação que se assume nesta condição é a mesma de dar um soco no chão (ou seja,
horrível). Os ataques corporais especiais causam boas risadas também. É hilário
ver SS4 Goku desferindo um Shoryuken ao estilo Ken de Street Fighter ou ainda
Piccolo desferindo algo similar ao Lariat de Zangief, também de Street Fighter.
A falta de criatividade é absurda, cômica, porém trágica.
O número de personagens selecionáveis é expressivo, apesar de serem selecionados
somente em determinadas fases (no modo History) ou através do modo Single
Player. São 9 personagens selecionáveis no modo Single Player, a saber: Goku (Kid),
SSGoku (Kid), SS4 Goku, Pan (acompanhada do robozinho Giru), Trunks, Uub,
Piccolo, SS Vegeta e Super Baby Vegeta. Ainda no modo History, é possível
controlar Goku com a cauda e o Golden Oozaru Goku. Curiosamente, Super Saiyan
Trunks estava na lista do website da ATARI como personagem selecionável, na
época do release de Transformation, assim como o próprio site mencionava que
dois vilões do jogo poderiam ser controlados, mas no fim apenas Super Baby
Vegeta é o único vilão selecionável. De fato, o número de personagens é
significativo para um beat 'em up comum dos anos 80/90, mas se compararmos
novamente com Dragon Ball: Advanced Adventure, onde é possível selecionar até 30
personagens no jogo, Transformation fica devendo um pouco por se tratar de um
jogo com uma franquia absurda de personagens.
A jogabilidade é o maior pecado do game. Nem jogos da década de 80, como Double
Dragon, possui uma mecânica tão problemática quanto a presente em Transformation.
A movimentação do jogo é estupidamente lenta e a resposta dos comandos sofre do
mesmo mal. A idéia básica de todo beat 'em up é simplesmente usar seqüências de
socos e chutes nos oponentes, mas o problema é que em Transformation nunca se
sabe quando os oponentes cairão no último golpe do combo, como seria esperado ou
quando os botões realmente serão responsivos. Para complica utilizar os ataques
de Ki é algo extremamente deficiente, já que não pode ser feito enquanto o
personagem estiver andando e, mesmo quando funciona, ainda há um certo atraso
entre o comando e a realização do movimento em si.
Além do jogador sofrer com a jogabilidade truncada e pouco responsiva, ele
também tem que simplesmente desconsiderar os momentos em que os inimigos
simplesmente ficam "imunes" aos ataques, independente de gerar hit combos ou
não. E o sistema de hit combos é outra incoerência: até mesmo quando o
personagem assume uma posição de defesa, os hit combos são gerados! E pasmem há
ocasiões que, independente dos inúmeros acertos aplicados no oponente, não se
gera 1 hit combo no mostrador!
O jogo também conta com slowdowns absurdos, nunca vistos em qualquer outro beat
'em up, apesar que o jogo é naturalmente lento. Outra constante são os inúmeros
bugs e glitches possíveis de ocorrer durante o jogo. Personagens que apanham
mesmo depois de mortos, personagens que não morrem, mesmo JÁ MORTOS, entre
muitos outros. Mas sem dúvida o mais engraçado é o (d)efeito que ocorre nos
oponentes quando golpeados. Após tomar uma seção de combos, o oponente fica
imóvel por poucos segundos e só depois "percebe" que tem que ir ao chão após a
sequência. Bizarro!
Apesar de ser possível a troca de personagens durante as telas (considerando-se
o Story Mode ou a opção Standart do modo Single Player) e da possibilidade disto
ser algo até então interessante, o sistema é destruído pelo péssimo controle.
Conseguir trocar de personagem pode ser tarde demais. Nem é preciso dizer a
frustração que uma situação dessas causa a qualquer um.
O show de horrores continua quanto ao quesito música. As músicas do jogo em nada
lembram a atmosfera de Dragon Ball, mesmo sendo a franquia GT. Os arranjos
musicais foram completamente americanizados, descaracterizando a obra e são nada
empolgantes. Além disso, os efeitos sonoros do jogo beiram o ridículo e são
extremamente irritantes. Até o efeito sonoro de um mísero Ki blast foi
descaracterizado aqui. Destaque para o efeito sonoro de quando seu personagem
pega algum item para recuperar a barra de life, no estilo Pac Man ao comer uma
das frutas do labirinto. Surreal! Até os itens coletados são toscos: umas
bolinhas vermelhas, bolinhas verdes, hambúrgueres, frangos, latas de
refrigerante, pizzas, maçãs e até um FEIJÃO GIGANTE que representa o que
conhecemos por Senzu. Os próprios itens do jogo fogem do padrão oriental,
baseados totalmente nos elementos da cultura ocidental em contraste com as
origens do jogo.
Transformation possui 3 modos de jogo: Story Mode, Single Player e Multiplayer,
além das telas de Options e Secrets. O Story Mode é o modo história em si, com
12 níveis representados por planetas, com personagens pré-definidos. Entretanto,
as fases além de mal elaboradas e repetitivas, são extremamente minúsculas e
aglomeradas de inimigos que surgem inúmeras vezes em apenas uma tela. Isso torna
o jogo ainda mais insuportável, pois é extremamente repetitivo e o avançar da
tela é algo pouco explorado e quando ocorre é pouco significante pois avançar a
tela e nada é basicamente a mesma coisa já que o cenário em nada varia. Sem
contar a rala variedade de personagens. Tá certo que é comum o repeteco de
personagens em qualquer beat 'em up, mas é intragável "atravessar uma fase
inteira" tendo somente dois oponentes diferentes, um sub-chefe e um chefe de
fase. Há também algumas telas onde a ação acontece no ar, que por incrível que
pareça são bem mais expressivas que as telas ao chão, apesar de ser
desconfortante ver uma pizza "flutuando" no ar, estática.
O modo Single Player é o mais interessante. Nele é possível selecionar outras 4
opções: Standart, onde é possível escolher um trio dentre os 9 personagens
selecionáveis e atravessar os níveis presentes no Story Mode, ignorando o
enredo; Endurance, um modo onde o jogador escolhe um personagem e enfrenta
inúmeros inimigos em uma única tela; Boss Endurance, onde o jogador enfrenta
apenas os chefes; e a opção Robot Swarm, onde o jogador enfrenta inúmeros
robozinhos em uma única tela. O modo Multiplayer é basicamente o conteúdo
presente na opção Standart, para mais de um jogador.
Na tela de Options é possível ajustar o volume dos efeitos e da música, conferir
o Sound Test, acelerar a velocidade dos textos, conferir os créditos dos (pouco)
envolvidos no jogo e acessar o Sprite Test, com a maioria dos sprites do jogo e
Portrait Gallery, que é uma galeria com os artworks dos personagens usados no
Story Mode. Artworks estes muito mal utilizados no decorrer do Story Mode. Em
certas cenas, talvez na falta de mais artworks, é possível ver Trunks, Goku ou
Pan com uma cara pra lá de invocada, quando a cena não necessariamente pede
isto. Mas com tantos erros que o jogo possui, quem diabos pensaria nisso?
Por último, temos a tela de Secrets. Basicamente, quase todas as opções
descritas anteriormente, inclusive as presentes no Options, precisam ser
desbloqueadas nesta tela. E para desbloqueá-las é necessário possuir Zenies, a
moeda de Dragon Ball que é acumulada conforme for bem sucedido nas fases ou
modos escolhidos. A idéia é ótima pois dá uma sobrevida a qualquer jogo para que
se possa ter todas as opções completamente desbloqueadas, mas com um jogo tão
ruim essa opção é uma tortura para qualquer fã que quisesse ter acesso a pelo
menos os personagens do jogo (já que também precisam ser "comprados" aqui).
Dragon Ball GT: Transformation é um produto mal-acabado em diversos aspectos,
escorado no sucesso comedido de Dragon Ball GT nos EUA, esperando triunfar
apenas por ostentar o título da série. Apesar de boas idéias e de várias opções
a serem desbloqueadas, NADA justifica a mediocridade do jogo em si. Junte a
resposta travada dos controles e a artificialidade da animação com a
incompetência dos beta-testers do jogo que visivelmente pouco foi testado e
temos um dos jogos mais repletos de bugs e glitches da franquia Dragon Ball. Sem
exageros, talvez de todos os beat 'em ups já lançados. É digno de ostentar o
título de pior beat 'em up já criado. E eis um concorrente a altura de Taiketsu,
outra grande bomba produzida aos cuidados da ATARI.