Shonen Jump – Edição 1 (janeiro de 2003)
ENTREVISTA
DRAGON POWER / PERGUNTE A AKIRA TORIYAMA
Uma entrevista com o criador de DRAGON BALL, Akira Toriyama
Quem fez os artistas marciais serem melhores que os super-heróis? Quem inspirou os power-ups e as explosões de energia que aparecem em quase todos os mangás, animes e séries de videogame? Quem criou os heróis e vilões mais dramáticos do mangá shonen e deu a eles os nomes mais engraçados? Akira Toriyama, é claro.
Em 1984, quando criou Dragon Ball (incluindo Dragon Ball Z – no Japão, o “Z” se refere apenas à segunda parte da série de anime), Akira Toriyama já era famoso no Japão por sua série de mangá de comédia anterior, Dr. Slump. Com base no sucesso de seu conto Dragon Boy, sobre um menino com asas de dragão, ele decidiu que sua nova série seria uma história de kung-fu em estilo chinês, sobre um menino com rabo de macaco. No início, um artista cômico trabalhando em uma série de ação pode ter parecido uma novidade, mas a individualidade da arte de Toriyama deu a ela um charme que uma série mais quadrada não poderia igualar.
Quando o enredo do Tenkaichi Budоkai (“Torneio de Artes Marciais dos Mais Fortes Sob os Céus”) se tornou popular, a série decolou como um incêndio movido a ki. O herói, Son Goku, cresceu; ficou mais forte; salvou o mundo; conheceu as divindades, como um herói do mito grego; e até se casou e teve filhos. Toriyama tornava cada nova luta interessante (mesmo quando as lutas duravam centenas de páginas), fazia cada novo personagem, de Bulma e Vegeta a Majin Boo, diferente dos que vieram antes.
Dragon Ball gerou animes, videogames e traduções em todo o mundo. Mas enquanto filmes e jogos são necessariamente esforços de grupo (pergunte a Toriyama – ele criou personagens para vários jogos, incluindo Dragon Warrior e Chrono Trigger), o poder do mangá vem do estilo e personalidade do artista. Com muitos agradecimentos, entramos na mente de Akira Toriyama, onde em algum lugar, entre Jackie Chan e filmes de ficção científica, entre heróis fantasiados e desenhos animados infantis, está a centelha por trás de suas obras incríveis.
■ Linha do Tempo Selecionada sobre o Toriyama
1955: Nasceu na Prefeitura de Aichi, Japão
1978: Estreia no Weekly Shonen Jump com Wonder Island
1979: Dr. Slump começa
1984: Dr. Slump termina. Dragon Ball começa
1993-1995: Exposição de Arte: Toriyama Akira no Sekai (“O Mundo de Akira Toriyama”) visita lojas de departamento japonesas
1995: Fim de Dragon Ball
1997: Cowa!
1998: Kajika
2000: SandLand
(BARRA LATERAL) O Son Goku Original
Dragon Ball foi originalmente modelado na antiga lenda chinesa Saiyûki (“Jornada ao Oeste”, também conhecido como “O Rei Macaco” ou mesmo “Macaco”). Em Saiyûki, Son Goku é um macaco poderoso nascido de uma pedra. Em vez de ser solicitado por Bulma para ajudar a encontrar as Esferas do Dragão, ele é convidado por Sanzo, um sacerdote, para ir da China à Índia em busca de sutras sagrados (escritos religiosos budistas). Depois que a primeira missão de Dragon Ball termina, as histórias não são muito semelhantes… exceto talvez pela moral de que seus antigos inimigos podem se tornar seus melhores amigos.
(BARRA LATERAL) Qual o significado do nome? 鳥山明
O nome de Akira Toriyama é composto por três kanjis. Seu primeiro nome, Akira, significa “brilhante”. Seu sobrenome, Toriyama, é composto por dois caracteres: tori, que significa “pássaro”, e yama, que significa “montanha”. Como Toriyama gosta de usar nomes de trocadilhos para seus personagens, não é muito difícil entender por que ele chamou seu estúdio de “Bird Studio”.
■ ESTILO DE ARTE
Quantos anos você tinha quando começou a desenhar? Que tipo de coisas você desenhava?
Comecei a copiar personagens de mangá de outras pessoas quando tinha cerca de 5 anos de idade, mas só comecei a desenhar mangás com um enredo adequado quando tinha cerca de 22 anos.
Quais são algumas de suas influências artísticas?
Eu era um ávido observador de animações desde os 7 anos de idade até os 10, quando mudei para mangá. Acho que sou influenciado pelas obras de Osamu Tezuka e Walt Disney que assisti naquela época, como Tetsuwan Atom (“Astro Boy”) e 101 Dálmatas
Como você se tornou um artista de mangá?
Enviei uma história para um concurso mensal para artistas amadores na Weekly Shonen Jump. Não ganhei, mas depois fui abordado por um dos editores [Kazuhiko Torishima, agora diretor sênior da Weekly Shonen Jump], e depois de estudar por cerca de um ano, me tornei um profissional.
Você tem uma habilidade incrível para desenhar qualquer coisa no mundo em seu próprio estilo pessoal distinto. Você costuma usar material de referência para desenhar diferentes objetos, lugares ou coisas?
Quase nunca uso material de referência para lugares, mas para objetos – por exemplo, se houver um modelo em particular de carro de que gosto – usarei um livro como referência para desenhar.
Que tipo de materiais de desenho você usou em Dragon Ball? Com quais materiais de desenho você trabalha hoje?
Não tenho certeza se essas marcas específicas estão disponíveis nos EUA, mas em Dragon Ball eu usei G-pens [um tipo de caneta de pena], Kent paper [um papel parecido com cartolina feito no Japão], tinta à prova d’água e tintas coloridas para colorir. Hoje, uso um Macintosh para colorir.
■ HOBBIES
Ouvi dizer que você é fã de Jackie Chan. De todos os filmes dele, qual é o seu favorito?
Drunken Master(o primeiro). Se eu não tivesse visto este filme, nunca teria criado Dragon Ball.
Você é fã de luta livre profissional? Pergunto porque, em Dragon Ball, há alguns personagens de estilo de luta livre como o Mr. Satan.
Infelizmente, não sou muito fã de luta livre profissional.
Quais são seus hobbies? Como você passa seu tempo livre?
Na verdade, tenho muitos hobbies, mas o que mantenho há mais tempo é construção de modelos. Em particular, adoro modelos militares.
Ouvi dizer que Dragon Ball foi inspirado parcialmente por uma viagem à China. De todos os lugares que você já esteve, quais são particularmente memoráveis? Você faz muitos esboços quando viaja?
Já estive em muitos lugares, mas a Austrália, onde senti ser um agradável equilíbrio entre suas cidades e seus magníficos espaços naturais, me emocionou muito. Eu não esboço nada em particular nas minhas viagens.
■ DRAGON BALL
De 1984 a 1995, como foi sua agenda de trabalho em Dragon Ball?
A maioria dos mangás no Japão são desenhados no formato semanal, então eu estava desenhando um capítulo por semana. [Aproximadamente 14 páginas, mais uma página de título – Editor] Mas para mim esse ritmo era muito difícil, e eu realmente não gostava.
Dragon Ball evoluiu de uma série de comédia para uma série de ação/luta. Você sente que seu estilo de arte mudou no processo?
Eu não estava particularmente consciente disso, mas meu estilo de arte mudava dependendo das circunstâncias. Mas quando se trata disso, mais do que tudo, eu gosto de desenhar comédias realmente bobas e absurdas.
Ouvi dizer que muitos desenvolvimentos de enredo em Dragon Ball foram influenciados por cartas de leitores. Isso é verdade e, se for, você pode nos dar um exemplo concreto?
Algumas partes foram, sim. Por exemplo, veja o Vegeta – quando ele apareceu pela primeira vez, era apenas um cara mau, mas como ele se tornou muito popular, permaneceu na série daquele ponto em diante.
Dragon Ball parece ter influenciado muitos jogos e mangás. De onde você tirou a ideia para os ataques que aparecem em Dragon Ball, como o Kamehameha e toda a ideia do chi?
Chi [também escrito como “Ki” – Editor] tem sido usado na China desde os tempos antigos, mas acreditam não ter forma e ser invisível. Porém, no mangá, para ser mais fácil de entender por qualquer leitor, era necessário dar-lhe uma forma. Para o Kamehameha, eu mesmo fiz várias poses diferentes e escolhi aquela que achei que funcionaria melhor.
De onde você tirou a ideia para a cosmologia/mitologia/religião de Dragon Ball, com divindades como Kami-sama, Kaiohs, Kaiohshins, etc.?
Sinceramente, eu não estava realmente pensando nisso muito profundamente. Por exemplo, conforme a história avançava, quando se tornou necessário ter algo que fosse maior que Kami-sama [“Deus” em japonês – Editor], criei o Sr. Kaioh [“Senhor Imperador do Mundo” em japonês – Editor], e assim por diante.
Por que você decidiu incorporar elementos de ficção científica em Dragon Ball, como os Namekuseijins, Saiyajins, outras raças alienígenas e viagens espaciais?
Eu amo filmes de ficção científica. Especialmente o primeiro filme do Alien – esse é o meu favorito. Eu incorporei ficção científica em Dragon Ball para expandir seu escopo.
Como você tem ideias para diferentes power-ups e transformações?
Quando você desenha um mangá de luta, inimigos cada vez mais fortes continuam aparecendo. Se um novo inimigo for mais fraco do que o anterior, os leitores não ficarão satisfeitos. Porém, o personagem principal é o mesmo Goku, então torna-se necessário dar-lhe power-ups rapidamente e imensamente. A transformação é uma forma de colocar isso no desenho que é fácil para os leitores entenderem.
Qual é seu personagem favorito de Dragon Ball?
Naturalmente, é o Goku. Por um lado, sou uma pessoa muito perversa, então sou atraída por um personagem puro e inocente como ele.
Qual é sua luta favorita em Dragon Ball?
Não me lembro bem, mas provavelmente a batalha com Piccolo.
■ TORIYAMA HOJE EM DIA
Ouvi dizer que você está recolorindo, e possivelmente até redesenhando, partes de Dragon Ball para uma nova “Edição Perfeita”. Como é desenhar Goku e Cia. pela primeira vez em muito tempo?
Eu não redesenhei nada do mangá real, porque senão eu começaria a ficar exigente com tudo. São apenas novas artes de capa. Desenhá-las novamente pela primeira vez em tanto tempo produziu uma mistura muito complicada de emoções, combinando nostalgia com a sensação de que não quero mais desenhar Dragon Ball.
Nota: Claramente estavam se referindo às edições Kanzenban, e curiosamente, Toriyama acabou redesenhando algumas coisas aqui e ali na história, corrigindo pequenos erros, assim como, no final, acabou expandindo um pouco o desfecho do mangá, desenhando novas páginas para o encerramento da saga Boo e o epílogo.
Dragon Ball foi traduzido para muitas línguas diferentes ao redor do mundo, e parece ter um apelo extremamente universal. Como você se sente sobre ele ser traduzido para mais e mais línguas?
Claro que me deixa muito feliz, mas ainda estou tentando viver como sempre fiz, sem realmente pensar nisso.
Em quais novos projetos ou mangás você está trabalhando atualmente?
Neste momento, dei um passo para longe dos mangás, e estou estudando coisas que sempre quis fazer, como design e ilustração de livros.
Nota: Na época desta entrevista, fazia cerca de um ano e meio desde que o capítulo mais recente de Neko Majin foi publicado. Toriyama retornaria a Neko Majin no final deste mesmo ano com Neko Majin Z 2 e Neko Majin Mike, ambos com lançamento previsto para agosto de 2003.
Que mensagem você gostaria de passar aos fãs americanos?
O fato de as pessoas na longínqua América serem fãs de Dragon Ball realmente me deixa feliz. O método de produção de quadrinhos no Japão é muito agitado, mas também é gratificante porque é possível fazer a história e a arte sozinho. Desta forma, é possível trazer à tona sua individualidade. Se essa ideia lhe agrada, convido você a tentar desenhar seu próprio mangá. Porque as pessoas que sabem desenhar mangás que os americanos vão amar de verdade são outros americanos como você.
ENTREVISTA – PERGUNTE A AKIRA TORIYAMA
De 1998 a 2002, os quadrinhos mensais DRAGON BALL e DRAGON BALL Z receberam milhares de cartas de fãs nos EUA, Canadá e ao redor do mundo. Nós pegamos as perguntas mais interessantes das cartas e perguntamos ao próprio Akira Toriyama!
Nota: Em 1998, a Viz começou a lançar o mangá como “floppies” mensais (volumes de dois capítulos no tamanho e formato de quadrinhos americanos tradicionais). Eles foram cancelados em 2002, em favor da inclusão da série aqui em sua revista Shonen Jump para a parte “Z” da obra, bem como a versão da edição encadernada “Graphic Novel” para Dragon Ball e Dragon Ball Z.
(1) Por que quase todos os personagens têm nomes de comida ou roupas?
por Readi Alexander, do Missouri
Quando há muitos personagens para lidar, é mais fácil dar nomes a eles se você escolher algum padrão com antecedência. Dessa forma, também é mais fácil para o leitor saber a qual grupo eles pertencem apenas pelo nome.
(2) Algum dos personagens tem sobrenome?
por: Cora “Chi-Chi” Warden, de Nova York
Alguns sim, outros não. Por exemplo, “Son” é o sobrenome de Son Goku, mas Vegeta não tem sobrenome.
(3) Existe algo como uma mulher Saiyajin?
por Erin Holt, do Alabama
Claro que existe. Mesmo que não apareçam no mangá, elas existem.
(4) Son Goku é faixa preta ou o quê? Que tipo de artes marciais Goku e os outros treinam?
por Laura Mickelberry, via Correio do Exército e Mike, via Internet
São várias formas imaginárias de kenpo (kung-fu), mas por serem fundamentalmente baseadas em formas chinesas, não há cores de faixa. [Embora o kung-fu chinês use faixas, como as que os personagens de Dragon Ball usam, as faixas em si são especificamente uma característica do karatê e taekwondo – Editor]
(5) Pual é macho ou fêmea?
por Cari Wynne, de Virginia
Para constar, pensei nele como macho quando o estava desenhando.
(6) Eu gosto do Goku. Ele é o cara dos sonhos de qualquer garota – grande, bonito, de bom coração, nunca crítico, sempre tem algo legal a dizer, etc. Mas eu sou totalmente fascinada pelo Piccolo (não é sempre assim?). Ele é um Clint Eastwood verde. Seu personagem mostra muita angústia do pós-guerra, como nos escritores niilistas alemães, como Hermann Hesse. Será que os escritores japoneses tradicionais do pós-Segunda Guerra Mundial têm as mesmas tendências?
por Nancy Peters, do Alabama
Acho que não. Os artistas de mangá, especialmente os jovens artistas de mangá que atualmente são considerados mainstream, praticamente não tiveram contato com a guerra. A guerra é apenas algo que aconteceu há muito tempo e que é descrito nos livros didáticos. Pense nisso como um dos muitos tipos de personagens existentes.
(7) O que o Freeza realmente é, quero dizer, que tipo de espécie? Como ele ficou tão poderoso? Por que ele tem um exército quando pode explodir o universo num piscar de olhos?
por Joshua Dare, de Nova York
Não há muitos deles, mas talvez sejam uma nova espécie híbrida que surgiu de uma mutação espontânea acidental no tempo de nossos avós. Quanto aos homens de Freeza, ele os considera mais como seguidores convenientes do que um “exército”.
(8) Por que todos os monstros têm essas orelhas que parecem vulcões atarracados?
por Ali J. Agdeniz, do Kansas
É apenas minha preferência pessoal. Quando eu era criança, imaginava que monstros tivessem orelhas assim.
(9) Por que Goten e Trunks não têm cauda?
por Kakarotto, via Internet
Parece que a cauda é um traço genético recessivo.
(10) Quero criar minha própria série de quadrinhos, mas toda vez que sento e tento planejar a ação, balões de diálogo, ângulos de câmera, etc., fico sobrecarregado e desisto. Como os profissionais sabem quando começar?
por Patricia Calamaco, do Texas
Eu sempre encenava as histórias como cenas de filmes na minha cabeça e imaginava como elas se desenrolariam. Como a América é o berço dos filmes, talvez você possa assistir a muitos deles e estudá-los.
(11) Qual é a do terceiro olho do meu mano Tenshinhan? Ele é humano?
por Charles Moyer, da Califórnia e Evan Coltin, via Internet
Em certas partes da Ásia, os seres com um terceiro olho na testa são considerados divinos e dizem possuir o poder da visão verdadeira. Parece que Tenshinhan, que foi criado pelo malvado Mestre Tsuru, perdeu a capacidade de usar os inúmeros poderes de seu terceiro olho para bons propósitos.
(12) O que aconteceu com a cauda de Vegeta depois que ele foi derrotado na Terra?
por Marc LaCroix, da Nova Escócia, Canadá
A cauda permite que você ganhe uma força tremenda instantaneamente ao se transformar em um macaco gigante, mas os riscos são igualmente grandes — você perderá sua força se ela for agarrada. Quando você é tão poderoso quanto Vegeta e Goku, a cauda só atrapalha. Acredita-se que os corpos dos Saiyajins, que são uma espécie lutadora, decidiram que suas caudas são apêndices desnecessários.
(13) Caro Akira Toriyama, meu nome é Mike Sampson. Sou seu maior fã. Você pode ter recebido muitas cartas como essa, mas esta é diferente! Tudo que compro tem a ver com Dragon Ball Z. Você é o melhor cartunista que existe. Quero crescer e ser como você. E queria saber se você poderia me contratar para seu negócio, eu desenho bem e tenho ótimas ideias. Eu ficaria muito grato. Por favor. Não quero ser rude, eu simplesmente amo seu mangá.
por Mike Sampson, da Geórgia
Obrigado. No entanto, infelizmente, não estou desenhando nenhum mangá. E quando ocasionalmente desenho uma história curta, faço tudo sozinho intencionalmente. Acho que seria muito melhor se você mesmo estudasse o que lhe interessa e desenhasse mangás em seu próprio estilo. Foi assim que eu fiz também.
(14) Quanto tempo você leva para desenhar o Goku?
por Nicole Jeanette, de Nova Jersey
Se refere a quanto tempo eu levo para desenhar um capítulo de Dragon Ball? Isso varia muito dependendo do capítulo, mas se for rápido, leva cerca de 20 horas. Se for devagar, pode demorar uma semana.
(15) Qual é o nível de poder de Majin Boo?
por Giovanni Toso, de Londres, Inglaterra
O mais assustador sobre Majin Boo é seu poder desconhecido e incomensurável. Se não é muito ou se é realmente estupendo, o próprio Majin Boo provavelmente não sabe a resposta.
Shonen Jump – Edição 3 (março de 2003)
LANÇAMENTO EM NOVA YORK
■ Akira Toriyama surpreende a Big Apple!
A Shonen Jump já tinha voado das arquibancadas e alcançado a velocidade de escape na hora do lançamento oficial (6 de Dezembro de 2002), mas… uma festa é uma festa. Dignitários da Shueisha, VIPs da VIZ LLC, figurões dos negócios e vários outros frequentadores lotaram o Powder Deep Studios, em Manhattan, para uma noite de dança e bebidas fluorescentes. Mal sabiam eles que um criador de mangá solitário espreitava na escuridão, esperando o sinal para desencadear sua fúria artística. Na hora marcada, Akira Toriyama saltou para o palco e – armado apenas com um grande marcador permanente – silenciou a multidão com um esboço majestoso de Dragon Ball Z!
■ Dragon Ball Encontrado sob o Big Top
No dia seguinte à festa, uma enorme cidade de barracas como Chelsea Piers estava repleta de curiosos. Vazaram rumores de que batalhas selvagens de cartas de Dragon Ball Z estavam acontecendo. Fãs frenéticos colocaram a caneta no papel, produzindo diversos desenhos incríveis – apenas para serem severamente julgados por… juízes (no concurso de desenho da FUNimation Productions). Em algum lugar além dos quiosques de Dragon Ball Z: Budokai, escondidos em um canto remoto da sala, editores da SHONEN JUMP vendiam seus produtos. De repente, na hora marcada, Akira Toriyama saltou para o palco e – armado apenas com um grande marcador permanente – silenciou a multidão com um esboço majestoso de Dragon Ball Z!
Nota: De fato, isso se repete na revista original; a transcrição duplicada aqui não é um erro.
As CriançaZ fazem PerguntaZ para Akira Toriyama
Crianças da organização Comunidades nas Escolas de Nova York conseguiram arrancar o microfone do ator de voz da FUNimation Productions, Chris Sabat, no evento de lançamento da SHONEN JUMP em Chelsea Piers. No curto espaço de tempo que controlaram o pódio, as crianças dispararam algumas perguntas para o criador de Dragon Ball Z e SandLand, Akira Toriyama.
Vamos ouvir…
Por que você se tornou um artista?
A razão pela qual comecei a desenhar manga é muito simples. Eu trabalhava em uma empresa de design. Eu realmente não gostei muito, então saí – e então comecei a ficar sem dinheiro. A revista semanal Shonen Jump tem um concurso amador mensal para artistas de mangá e eu queria ganhar esse prêmio em dinheiro.
De onde você tira suas ideias?
Obviamente, eu era um adulto naquela época, mas sempre que ficava preso em uma história, tentava me imaginar quando era criança. Eu pensava comigo mesmo: “Ok, o que eu gostava ou o que eu queria ler ou ver quando era criança?” Foi assim que criei minhas histórias.
Notei que a Lunch desapareceu depois que Raditz chegou. O que ela estava fazendo?
Para falar a verdade, eu esqueci totalmente dela em um ponto. E então me lembrei dela depois de um tempo e tive que pensar em um motivo para ela ter desaparecido. Então, fiz parecer que ela estava perseguindo Tenshinhan.
Qual é seu personagem favorito?
Na verdade, gosto muito de Piccolo e do Mr. Satan [Hercule na América – Editor] – ele era muito fácil de desenhar, então eu gosto dele.
Qual dos seus mangás você mais gostou de criar?
Você provavelmente não está familiarizado com o título, mas o meu favorito, dentre todos os meus trabalhos, é provavelmente Neko Majin (“Cat Genie” ou “Cat Demon”). Mas por Dragon Ball ser meu trabalho mais longo – tem 42 volumes – eu tenho mais memórias de Dragon Ball do que de qualquer outra coisa.
O que você gosta em Nova York?
Eu não vou ao exterior com muita frequência. Se eu fizer isso, prefiro ilhas mais quentes nas partes do sul do mundo. No entanto, quando vim para Nova York, fiquei surpreso com como cada prédio tem seu próprio caráter e sabor. E todos parecem estar vivendo a vida plenamente todos os dias. Então, sempre que estou andando pelas ruas, não consigo parar de olhar ao redor. É uma cidade maravilhosa.
Você criará mais histórias de Dragon Ball Z?
Trabalhei na série por quase 10 anos. Quando cheguei ao terceiro ano, estava realmente forçando meu limite, mas os editores originais da Weekly Shonen Jump no Japão me fizeram continuar a história. Tenho que agradecê-los, porque foi aí que comecei a realmente apreciar e gostar de criar o mangá. Consegui continuar por dez anos, mas dez anos realmente foi o limite.
Qual é exatamente o objetivo de obter as Esferas do Dragão?
Isso veio originalmente de uma mistura de dois contos populares: o chinês “Rei Macaco” [também conhecido como Saiyuuki, ou Jornada ao Oeste – Editor] e o japonês Nanso Satomi Hakkenden (“Os Oito Cães Guerreiros”). A ideia de coletar esferas na verdade veio do Hakkenden [na história, uma princesa se esfaqueia, então oito esferas mágicas se espalham de seu ferimento – Editor].
Quando nos encontramos em Nova York com Akira Toriyama, sabíamos que não poderíamos deixar passar a chance de falar com ele, mas que novas perguntas fazer? Felizmente, Eito e Takeshi Yasutoko vieram nos salvar, ambos são grandes fãs de Dragon Ball e, além disso, falam japonês melhor do que nós. Os dois campeões de patinação inline e seu pai conheceram o grande artista no último andar do Kitano Hotel.
■ Personagem(s) de Toriyama
Takeshi: Então, agora que te conheci pessoalmente, tenho que dizer que Senbei Norimaki [personagem-título do primeiro mangá de Toriyama, Dr. Slump –Editor] é praticamente igual a você…
Sim! Eu ouço muito isso, incluindo como também sou tão pervertido quanto o personagem. (risos) E quando Dragon Ball foi lançado, foi dito que eu me coloquei na obra como o personagem Mestre Kame.
Takeshi: Então você se projetou conscientemente no personagem?
Não, de forma alguma. (risos) Acontece que acaba sendo mais fácil de desenhar e criar quando o personagem é semelhante a você.
Hyde Narita: Então como você os desenha? Como você imagina os personagens?
Bem, nós simplesmente discutimos isso durante as reuniões mensais, então eles apenas desenvolvem, e nós corremos com isso. Uma história surge e eu penso: “Precisamos fazer esse tipo de personagem para esse tipo de história.” E assim criamos um personagem.
Takeshi: Havia um modelo para Arale-chan [a garota robô de Dr. Slump –Editor]?
Sim, aconteceu assim. Eu odiava desenhar garotinhas, tanto que originalmente pretendia que Senbei fosse o personagem principal, mas meu editor gostava muito de garotas na época, então ele exigiu que eu criasse uma garota e criei Arale-chan, com muita insatisfação. Então ele olhou e disse: “Ei, essa é a melhor, faça dela a personagem principal!” e eu estava pensando “O QUÊ?!?” Acabou sendo um grande sucesso e fiquei em choque.
■ Desenhando Dragon Ball
Dragon Ball foi uma dor de cabeça séria. Eu sempre me perguntava: “O personagem não pode ficar mais forte, eu tenho que continuar com isso?”
Eito: Notei que vários Super Saiyajins diferentes foram desenvolvidos.
Depois da segunda metade, praticamente todo o poder era só conversa, só pela aparência. O conteúdo era bem vazio e não diferia muito das coisas anteriores.
Takeshi: Sim, preciso dizer, eu gostava muito mais do Goku quando ele era pequeno. Quando ele cresceu, eu sempre pensei que o Goku mais novo e menor sempre foi o mais parecido com Goku dentre os dois… Então, eu poderia pegar um autógrafo?
Claro. Então você gostaria da versão infantil do Goku?
Takeshi: Por favor. (Toriyama começa a desenhar o jovem Goku para Takeshi.)
Espera aí, eu tenho que lembrar da sequência do desenho dele… corpo, barriga, boca… nossa, isso é complicado…
Takeshi: Por que o cabelo é assim?
Bem, o rosto é muito simples, então eu tive que aprimorá-lo. Originalmente, a maioria dos rostos no quadrinho eram bem genéricos, e especialmente no caso do personagem principal, ele não parecia muito com um protagonista, então eu mudei para esse estilo. É realmente um penteado que não pode existir na vida real. (risos)
Eito: Então foi decidido desde o começo que Goku se tornaria um Super Saiyajin?
De jeito nenhum. Eu meio que me encurralei, apresentando esse “inimigo gigante que vai aparecer na próxima edição”, e fiquei sentado lá depois coçando a cabeça e pensando comigo mesmo o que diabos eu faria sobre isso. (Toriyama começa a desenhar o Goku Super Saiyajin.) Faz tanto tempo que eu esqueci como desenhá-lo. (risos)
Takeshi: Então você está planejando desenhar algo novo?
Ah, cara, eu nunca mais quero desenhar mangá. É difícil!
Eito: Muitas vezes vejo nos quadrinhos como o editor vai até a casa do artista e diz “apresse-se, por favor!”
Sim, há muitas pessoas que são lentas, mas no meu caso, eu moro na Prefeitura de Aichi [longe de Tóquio –Editor], então os editores geralmente não vêm me ver, mas no começo disseram-me que, se chegasse um dia atrasado, seria forçado a ir pessoalmente a Tóquio. E Tóquio é realmente lotada, o que eu odeio, então sempre tentei entregar meu trabalho no prazo.
Eito: Eu sei desenhar a partir de fotos, mas gosto de desenhar de forma livre… Sempre amei arte quando criança. [Eito mostra alguns de seus desenhos a Toriyama.]
Ei, muito bom! Você desenha linhas claras.
Eito: Eu criei um site chamado “Cabin Eight” onde estou exibindo meus esboços brutos. Gostaria de saber se eu poderia conseguir um autógrafo seu? Seria possível você fazer um autorretrato seu?
Aaargh, esse é o pedido mais complicado. (risos)
Takeshi: Que tal o Mestre Kame? Ou Vegeta? Eu gosto do Vegeta também. Ou Broly dos filmes?
Toriyama: Broly? Quem era esse? Não sei se ele estava no mangá…
Eito: Ele só estava nos filmes. Que tal…com qual personagem você tem mais nostalgia?
Acho que seria o Neko-sama…
Eito: Você quis dizer Karin-sama?
Sim, o Karin-sama.
Eito: E quanto a Bulma? (Toriyama começa a desenhar uma Bulma jovem) Você ensinou seu estilo e técnica aos seus assistentes?
Eu só tinha um assistente e ele podia vir por cerca de meio dia. Eu o faria desenhar os cenários ao seu gosto. Eu normalmente desenharia um ou dois exemplos – “Este é o estilo que eu quero” – e isso é tudo que eu tinha que dizer. O assistente era um artista muito talentoso, então deu certo. Eu também pedia a ele para pintar a arte e inserir linhas de ação. Se o assistente não tivesse terminado o trabalho, eu faria os cenários e a tinta também.
Eu odiava apagar as linhas de lápis, e levaria um tempo para o assistente terminar, então foi por isso que criei o Super Saiyajin, porque era fácil de desenhar em comparação com o penteado normal do Goku. Outra técnica que eu usaria para tornar o trabalho mais fácil para partes difíceis como o Torneio de Artes Marciais era destruir rapidamente as coisas, então não teríamos mais que desenhá-las.
■ A origem de Akira Toriyama
Eito: Então, como foi ter seu trabalho publicado?
Você tem uma sensação real de realização por ter sido publicado e lido por tantas pessoas, mas criar um mangá continuamente é realmente difícil. Eu era tão novo que não sabia como o mangá era realmente feito, e ainda não tinha aprendido a empregar um assistente, então todos com quem conversei ficaram realmente surpresos que eu estava fazendo todos os cenários e tudo, talvez dormindo 3 horas em uma semana… Quando eu estava fazendo arte ruim, esse era o motivo. Eu estava pensando comigo mesmo: “Cara, eu realmente entrei em uma linha de trabalho difícil.”
Eito: E seus sentimentos sobre arte?
Eu gostava de design e ilustração. Então, assim que terminei o ensino médio, fui contratado por uma empresa de design, porque eu queria pular para o mundo real e começar a ganhar dinheiro imediatamente. Mas eu realmente odiava que, embora houvesse pessoas capazes de fazer a arte internamente, a empresa terceirizasse seu trabalho gráfico. Então, depois de três anos, eu pedi demissão, e minhas economias pessoais diminuíram rapidamente. Eu estava sentado em um café pensando: “O que diabos eu vou fazer?” Eu tinha lido todos os livros que estavam no café, então pensei, “dane-se, vou ler alguns mangás”. Acho que era a Shonen Magazine, e tinha uma competição de mangás cujo prêmio era de 500.000 ienes. Mas quando tentei, não consegui cumprir o prazo e a próxima competição seria em seis meses. A próxima revista que olhei, a Shonen Jump, tinha uma competição mensal, mas o prêmio era de apenas 100.000 ienes, e eu pensei: “Ei, esta parece muito mais fácil de ganhar do que a da Shonen Magazine”. Olho para ele agora e penso: “Uau, isso que eu tava desenhando é um lixo realmente amador”, mas naquela época eu estava confiante de que era bom o suficiente para ganhar os 100.000 ienes. Não obtive resposta, então pensei que talvez eles não tivessem recebido o manuscrito, e entrei em outra competição, mas descobri que não tinha conseguido. Então um editor, que acabou se tornando meu primeiro editor, acabou me dizendo que gostava de onde eu estava indo com minha arte e se ofereceu para que eu criasse algum trabalho e enviasse para ele e ele me ajudaria. Esse foi o ponto de virada que me levou ao caminho de me tornar um artista de mangá. Eu provavelmente não teria me tornado um artista de mangá se tivesse realmente ganhado o prêmio de 100.000 ienes, porque eu só estava atrás do dinheiro. Tudo o que eu estava pensando na época era talvez vender uma ilustração aqui e ali e viver disso. Aos 22 anos, eu ainda estava roubando 100 ienes da carteira da minha mãe, porque eu queria muito comprar um maço de cigarros. (Toriyama faz uma pausa e olha para o que ele estava desenhando.) Oh, ei, ficou bem legal.
■ Auto-aperfeiçoamento
Eito: Muito obrigado. Então, o que o futuro reserva para você?
Eu inicialmente senti muita resistência em escrever mangás, mas acho que no meio de Dragon Ball eu mudei de ideia e pensei comigo mesmo: “Ei, isso não é tão ruim”. Acho que comecei a gostar de todo o processo criativo profissional, semelhante a fazer um filme; mas me senti insatisfeito quando não fui capaz de desenvolver totalmente uma ideia que tive. Por exemplo, fascículos semanais, como durante a última parte de Dragon Ball, realmente me fizeram pensar: “Depois de terminar com isso, nunca mais quero fazer esse tipo de cronograma maluco de novo”. Eu estava ficando velho e fiquei realmente impressionado com as pessoas que conseguiam trabalhar daquele jeito, mas queria me concentrar em trabalhos que eu pudesse terminar em um curto período de tempo. Agora eu faço coisas como projetos de carros e livros ilustrados, que considero “lição de casa”, como se só agora estivesse começando a estudar seriamente o que gosto. Mas e quanto a vocês dois, que são os melhores de suas classes? Seus objetivos realmente mudam?
Takeshi: Não, na verdade não. Quero dizer, no geral, do ponto de vista de cada competição, não estamos realmente avançando, mas se você olhar de uma perspectiva mais ampla, minhas aspirações como competidor e minhas aspirações como patinador são bem diferentes. Como competidor, mantenho aquela sensação de querer vencer, mas como patinador, eu simplesmente aspirava continuar patinando.
Pai: Uma vitória em uma competição dura apenas por aquele momento em particular, mas a técnica é algo que cresce e se desenvolve continuamente para ele ano após ano. É algo que ele persegue.
Isso é realmente muito profissional. Embora eu mesmo tenha desenhado, estou realmente insatisfeito com Dragon Ball… Antes de morrer, espero criar algo que realmente fique comigo e me deixe satisfeito com minha criação. Quer dizer, você odeia suas coisas antigas. Parece cru.
Takeshi: Certo, como esportista, quero ser capaz de fazer o melhor que posso enquanto ainda consigo patinar. É algo que realmente não é conhecido por muitas pessoas que olham para você de fora.
Pai: Então você tem algo novo em desenvolvimento?
Para mangá, nada realmente me vem à mente. Foi realmente um momento de inspiração no caso de Dragon Ball. Assistia a coisas como Jackie Chan umas cem, duzentas vezes, mesmo enquanto estava trabalhando.
■ Filmes & Anime
Pai: Então Dragon Ball é baseado em Jackie Chan?
Sim, eu amo Jackie Chan. Eu realmente não tirei inspiração diretamente dele, mas meu editor foi quem me disse que se eu o amava tanto, deveria criar algo baseado nele. Inicialmente eu apenas baseei a sensação de Dragon Ball na sensação da China, como o cenário e as roupas. Como o nome Dragon Ball é baseado no filme [Enter the] Dragon. Eu amo esse filme, o estilo antigo de Bruce Lee.
Pai: Eu já assisti 18 vezes.
Uau, isso é mais do que eu, só vi cerca de 15 ou 16 vezes. De qualquer forma, comecei a me inspirar mais e mais nesse gênero. Especialmente dos aspectos cômicos de Jackie Chan. Eu li seu livro: “Eu sou Jackie Chan”, há alguns anos, com o conceito de herói que é tão normal quanto todo mundo. Então, na estrutura de ação total, sempre inseri pontos de normalidade, onde as pessoas fazem coisas do dia a dia, como passar fome. Se eu fizesse uma história fantástica demais, a imaginação do leitor seria levada para longe demais em um reino fantástico. Eu realmente não sou um grande fã de luta, na verdade eu me divirto mais com os elementos de conexão que levam a uma luta. Deleitando-me com o cotidiano.
Takeshi: Mas existem algumas lutas realmente boas, embora geralmente haja mais no anime.
Certo, bem, o problema é que um episódio de anime pode cobrir tipicamente três capítulos de mangá, então o anime pode facilmente ultrapassar a velocidade do mangá. Portanto, o anime é estendido adicionando mais combate.
Takeshi: Quando eu era bem jovem, uma vez vi um anime feito por você que era sobre tirar uma bola da cabeça ou dos chifres de um dragão ou algo assim.
Espera aí, um anime? Nossa, de jeito nenhum, esse é bem nostálgico.
Eito: Isso foi antes de Dr. Slump?
Não, foi depois. Falava-se sobre fazer um anime original durante a produção de Dragon Ball [Kosuke-sama, Rikimaru-sama: Konpeitou no Ryuu, um OVA de 1991 –Editor]…
■ O Fim (por enquanto…)
Há algo que vocês desejam fazer ou estão planejando fazer no futuro?
Takeshi: Poder patinar por mais 10 anos, dar o meu melhor em cada torneio e fazer com que todos curtam minha performance.
Eito: Quero estudar mais e, embora não tenha nada concreto em mente, quero ir na direção da patinação inline. Talvez ter meu próprio tour para gerenciar. Aprender inglês, como administrar um negócio. Definitivamente, quero poder patinar pelos próximos 10 anos, como Takeshi disse, mas, acima de tudo, quero poder realizar meu sonho de patinar no nível de habilidade que busco.
Uau, isso é realmente incrível. Acho que, quanto a mim, quero ser capaz de produzir algo, mesmo que uma vez, com o qual eu fique completamente satisfeito.
Eito: Então não é Dragon Ball? Você acha que tem algo melhor que você pode produzir?
Beeeem, realmente não é Dragon Ball… (risos)
Agradecimentos especiais a Akira Toriyama e à família Yasutoko.
Shonen Jump – Edição 43 (julho de 2006)
TORIYAMA-RAMA
Entrevista com Akira Toriyama
SHONEN JUMP: Seu primeiro mangá, Dr. Slump, está sendo publicado em inglês — qual é sua mensagem para os fãs de língua inglesa que leram Dragon Ball, mas não Dr. Slump — o que eles devem esperar?
Vocês estão realmente publicando Dr. Slump? É tão japonês, imagino se algumas das piadas serão traduzidas. E é um mangá tão bobo, mas eu adoro criar mangás bobos. Essa é minha especialidade. Por favor, leiam.
Quais técnicas ou programas você usa para colorir suas artes recentes no computador?
Originalmente, comecei a fazer computação gráfica porque estava farto do processo de colorir com tinta, então comecei a usar o PC. Isso foi antes de ser padrão fazer isso. Achei divertido. É difícil obter as sutilezas de cores, mas eu não queria mais colorir sem o PC. Não é bagunçado. Eu uso o Photoshop, mas uma versão muito antiga do Photoshop, versão três. Se tiver tempo, também uso um programa chamado Painter.
Os personagens de Dragon Ball foram adaptados para videogames, usando arte 3D. Você tem algum interesse em usar arte 3D em seu mangá? O que você acha de cel-shading?
Sim, estou interessado e adoraria experimentar, mas na minha idade seria difícil tentar aprender. Então, estou pensando que se meus filhos aprenderem, eles podem me ensinar. E sim, se você está se esforçando para ter uma qualidade de mangá na animação, então cel-shading é o caminho a seguir.
Você já trabalhou diretamente com animação?
Eu queria, mas o nível de trabalho parece enorme, então não. Posso ver que escrever uma história para animação parece muito divertido, mas não desenhar as células de animação individuais. Certamente posso desenhar tão bem quanto os animadores.
Nos últimos anos, você fez algumas histórias crutas para a Weekly Shonen Jump no Japão, incluindo algumas com o personagem Nekomajin — você pode explicar sua origem?
Eu tenho um gato, e o uso como modelo. Pensei no personagem Kuririn de Dragon Ball, e então adicionei mais elementos cômicos.
Você tem muitos animais de estimação?
Sim, incluindo muitos peixes e tartarugas.
Hoje em dia, quando desenha um mangá curtinho, você desenha tudo em poucos dias, em uma explosão intensa de energia — como quando você fazia um mangá semanal — ou você desenha mais vagarosamente e lentamente, algumas horas por dia ou menos, durante um longo período de tempo?
Eu realmente quero trabalhar muito nisso na hora, e eu tento, mas por algum motivo meu braço simplesmente não funciona até que faltem três dias para um prazo. E eu sempre me arrependo disso toda vez. Minha mão começa a doer, e eu não consigo dormir — eu simplesmente fico acordado a noite toda.
Quando desenhou um livro infantil, Toccio the Angel, você pensou no gosto dos seus próprios filhos?
Na verdade, comecei há muito tempo, então, no começo, sim, eu tinha meus filhos em mente. Mas levei tanto tempo para terminar que, quando finalizei, meus filhos já estavam crescidos, já estavam no ensino fundamental, e não tinham mais interesse nesse tipo de coisa. E, conforme eu desenhava, comecei a integrar coisas que eu gosto, como animais.
Se o Goku, de Dragon Ball, não fosse parte macaco, haveria outro animal que você teria usado para criar seu personagem principal?
Na verdade, eu não pretendia que Goku fosse baseado em um animal, por si só. No começo, ele era apenas um ser humano, mas meu editor na época me disse que ele não parecia atraente nem causava uma impressão forte. Eu meio que queria uma pessoa comum, mas não foi aprovado, então dei a ele um rabo.
No começo de Dragon Ball, há muitas pessoas com cabeça de animal — pessoas panda, pessoas crocodilo, pessoas vaca, pessoas gato, etc. — nos cenários. Mas, no final da série, quase não há pessoas com cabeça de animal. Isso foi resultado da crescente “seriedade” da história?
Pode ser a seriedade, mas é provável que eu tenha esquecido de incluí-los no final. No começo, eu ainda estava trabalhando sob a influência de Dr. Slump.
Vários leitores perguntaram se os Namekuseijins são plantas. Claro, com base em seus nomes, eles parecem ser lesmas… mas eles são verdes, têm um método estranho de reprodução e vivem de água.
Essa é uma pergunta difícil. Pensei em Piccolo primeiro, e queria desenhá-lo como um personagem assustador, e foi só depois que tive que pensar em sua espécie. Como eles têm antenas, pensei que pareciam lesmas. Então “Namekuseijin” é um jogo de palavras, mas não pensei muito sobre isso. [A palavra para “lesma” em japonês é “namekuji”.] Não acho que sejam plantas, mas podem ser hermafroditas.
Shonen Jump – Edição 58 (outubro de 2007)
COLECIONADOR DE DRAGON BALL
Entrevista com o Majin
Akira Toriyama responde às nossas perguntas – sobre dragões, gatos e o épico Dragon Ball!
Depois de trabalhar em Dragon Quest, Dragon Ball e Blue Dragon, você sente uma conexão especial com a palavra “dragão”?
É só uma coincidência. Dragon Ball é o único título que eu inventei. [Dragon Quest e Blue Dragon não são criações dele. –Editor]
Você gosta de dragões? Se pudesse ter um dragão como animal de estimação, você gostaria de um dragão asiático ou um dragão europeu? Por quê? E qual seria o nome dele?
Definitivamente um dragão europeu. Não há estranheza no design dos dragões europeus, e eu realmente gosto do equilíbrio de suas características. Se dragões pequenos existissem, eu realmente gostaria de ter um como animal de estimação. Eu provavelmente o chamaria de Gon.
Nota: Provavelmente uma referência ao personagem titular da série de mangá de Masashi Tanaka sobre um pequeno dinossauro.
Você tinha em mente que iria desenhar basicamente um drama épico de diferentes gerações? Quero dizer, vemos Goku quando criança e ele cresce forte e se casa, tem uma família. Nós até vemos seu filho crescer e lutar ao lado de seu pai. Há alguma mensagem que você queria transmitir aos leitores?
Infelizmente, nunca imaginei isso. Meu estilo de trabalho em um mangá serializado é esse: para manter a sensação de tensão e suspense, trabalhei sem pensar no próximo capítulo. O próprio autor se perguntava quem venceria a batalha.
Quando te entrevistamos pela última vez, na Jump Festa, você nos disse que a ideia do Nekomajin veio do seu gato de estimação. Algum dos seus gatos é tão gordo e preguiçoso quanto o Nekomajin Z? Você poderia nos contar mais sobre como surgiu a ideia de desenhar o Nekomajin Z?
Nosso gato doméstico é um Cornish Rex. Então ele é bem magro. Nekomajin foi inspirado em como seu rosto fica quando ele dorme. O Mestre Karin de Dragon Ball também foi inspirado da mesma forma. Eu queria desenhar um mangá de comédia bobo como uma repercussão após o longo período desenhando um mangá com muita história.
A aparência de Majin Boo é inspirada no majin de estilo árabe, ou “gênio”? Suas roupas parecem ter um estilo meio de conto de fadas árabe. Ou você estava pensando em um tipo diferente de “majin”?
Sim. Eu vi As Mil e uma Noites quando era criança, então tenho essa imagem definida de como um majin, ou gênio, deveria ser. Então foi assim que lhe dei aquele traje.
No mês que vem: A entrevista com Toriyama-sensei continua! Qual é o seu filme de kung-fu favorito? Por que suas personagens femininas são tão fortes? Que pergunta nunca lhe fizeram antes?!?! Além disso, dicas sobre como fazer a pose do Kamehameha. Sério!
Shonen Jump – Edição 59 (outubro de 2007)
ENTREVISTA DE DRAGON BALL
Entrevista com o Majin! Revisitado
No mês passado, Akira Toriyama deu respostas reveladoras sobre Dragon Ball, a sua história de kung-fu. Aqui está o resto do que ele nos contou, incluindo os nomes de seus filmes de kung-fu favoritos de todos os tempos!
A maioria das garotas em Dragon Ball Z são lindas e sensuais, mas também são fortes. Há uma razão para isso?
A razão é simples. Eu me sinto desconfortável desenhando mulheres fracas. Não é divertido desenhá-las desse jeito.
Em várias partes de Dragon Ball, o personagem mais poderoso é, na verdade, o menor, o mais fofo e o mais jovem. Por exemplo, o jovem Goku, ou Freeza e Majin Boo em suas transformações finais. Isso é porque as crianças são pequenas e fofas, mas também querem ser poderosas?
Eu queria ir contra a expectativa das pessoas de que os fortes sempre ficam mais fortes e maiores. Eu conscientemente tentei alternar entre contar uma história direta e contar uma que fosse não convencional e contraditória.
Você tem algum filme de kung-fu favorito?
Eu assisti a muitos deles, mas acho que Operação Dragão e O Mestre Invencível são os melhores filmes de kung fu já feitos. Quando se trata de filmes em geral, eu incluiria Alien e Heróis Fora de Órbita. Esses quatro filmes são incríveis pela maneira como deixam as pessoas animadas!
Você recomendaria que os leitores treinassem artes marciais? E quais artes marciais você pratica?
Acho que aprender uma arte marcial é maravilhoso para a mente [assim como para o corpo]. Raramente assisto a programas de TV que apresentam artes marciais. Ocasionalmente, assisto a lutas de boxe. Boxeadores que são quietos, mas fortes, são legais! Mas eles são raros.
Você poderia dar algumas dicas de como fazer uma pose de Kamehameha legal? E qual seria o melhor ângulo para filmar a ação?
Se você mover a câmera enquanto estiver filmando, o movimento e as edições serão complicados. Mas se você filmar de um lugar, eu diria que seria atrás da pessoa, ligeiramente para a direita, se ela estivesse posando daquele lado.
Por fim, há alguma pergunta que você sempre quis que lhe fizessem?
Isso não é algo que eu queria dizer, mas meus amigos mangaká acham que é incomum. Não tenho muito interesse em mangás e animes, e quase nunca os leio ou assisto. Eu mesmo não entendo. Eu amava mangás e animes até os 11 anos. Depois disso, praticamente perdi o interesse, e agora não os leio nem assisto mais. Provavelmente porque meu interesse mudou para filmes e assim por diante. Mas nunca pensei em fazer um filme. Prefiro pensar em uma história de mangá. Além disso, minha personalidade é a de alguém que só vê o que está à frente. Já esqueci muito sobre os mangás que desenhei. Para ser honesto, muitas vezes fico perdido quando me fazem perguntas sobre Dragon Ball e acabo me perguntando: “Sobre o que é essa pergunta?”