Revista Banzai, Edição #6 (março de 2004)
ENTREVISTA COM AKIRA TORIYAMA NA ALEMANHA!
Toriyama participou da Feira do Livro de Leipzig em março de 2004, em Leipzig, Alemanha, por convite da Carlsen Comics, a licenciadora e editora alemã de Dragon Ball. A chegada de Toriyama foi uma grande notícia, pois houve uma grande demanda para vê-lo por parte dos participantes da feira.
Contudo, como Toriyama era tímido e não gostava de multidões, apenas um público seleto de 200 participantes foi escolhido por sorteio. Depois de uma longa espera, Toriyama subiu ao palco e recebeu muitos aplausos. Ele então respondeu às perguntas e deu uma aula de desenho para o público.
No sábado, finalmente havia chegado a hora! Para muitos, o destaque absoluto da feira era o mestre: Akira Toriyama, que responderia suas perguntas ao vivo no palco! A BANZAI! apresenta a entrevista completa novamente para todos que não puderam estar em Leipzig. Além disso, temos também algumas perguntas adicionais a apresentar, que vocês nos enviaram antecipadamente por e-mail.
Toriyama-sensei, você agora é conhecido em todo o mundo. Qual é a sensação e como você lida pessoalmente com tanto entusiasmo por sua pessoa?
Estou feliz que meu trabalho seja famoso, mas pessoalmente sou muito tímido e preferia não ser famoso. É por isso que não publico nenhuma foto minha, para que ninguém me reconheça e eu tenha uma vida tranquila e normal.
Com que idade você começou a desenhar mangá?
Ah, eu comecei quando tinha 21 anos. Foi quando eu realmente quis me tornar um mangaká.
Qual era a sua aspiração profissional quando criança?
Quando criança, eu queria ser um artista.
Qual foi a sensação ao realizar seu primeiro trabalho publicado?
Claro que fiquei muito feliz. Mas eu estava acostumado a lidar com coisas impressas, porque já havia trabalhado com publicidade. Afinal, meus pais costumavam dizer: “Faça algo decente! E nem sempre desenhe mangá!” Ter aquele [emprego] tornou mais fácil para mim continuar desenhando.
Qual mangá você leu antes e qual mangaká influenciou sua arte?
Para ser sincero, não li muitas obras de outros mangakás, exceto na minha infância, que li Astro Boy de Osamu Tezuka. Mas, recentemente, minha esposa e meus filhos ficaram loucos com o 20th Century Boys de Naoki Urasawa. Cheguei a um ponto em que não entendi o que eles estavam falando, então decidi ler o mangá. Eu gostei mais do que a maioria dos filmes que já vi. Se eu ler mais mangás, provavelmente poderia citar outros mangakás que são tão bons.
Como você tem suas ideias? Possui algum truque especial?
Ter ideias é difícil. Você tem que abrir seu caderno de desenho e passar por diferentes conceitos. Como não sou um cara comum, tento evitar histórias simples. A combinação certa de ideias firmemente planejadas e ideias espontâneas que vêm à mente é muito importante.
Como funciona a colaboração entre você, a editora e o editor?
Normalmente, a relação entre um autor e sua equipe editorial deve funcionar de forma que, se algo não estiver certo, o editor descubra esse erro e, então, direcione o trabalho para o caminho correto. Meu editor, Torishima-san, tinha muitas ideias boas que eu implementava com frequência. No entanto, houve algumas que eu não gostei. Eu dizia: “Essa é uma boa ideia” para deixá-lo feliz, mas então mataria a ideia pelas costas dele. Peguei suas ideias mais brilhantes e gradualmente as adicionei ao meu trabalho. Acho que ele não facilitou as coisas pra mim porque nem sempre o ouvi.
Qual de seus trabalhos você se divertiu mais desenhando?
Com certeza foi o Neko Majin! É uma perspectiva divertida relacionada à minha história mais famosa. Com Dragon Ball, no Japão, há tantas paródias que eu pensei: “é hora de desenhar uma para mim mesmo.” Minha “paródia oficial de Dragon Ball”, por assim dizer.
Por que você desenhou mais três histórias de Neko Majin em 2003?
Aparentemente, os leitores gostaram de Neko Majin, colocando em poucas palavras. Então meu editor disse que eu poderia criar novas aventuras.
De vez em quando você lê seus próprios mangás?
Normalmente não. Eu li Dragon Ball pela primeira vez enquanto trabalhava nas novas artes de capa para a edição Kanzenban. Eu simplesmente tenho muito o que fazer, não conseguindo ler todos os meus mangás.
Existe algo comparável no Japão à nossa competição “Manga Talents”?
Oh, existem muitas competições. Tantas, que dificilmente você pode entrar em todas eles. Eu também participei de uma competição no começo, mas não consegui vencer. Eu ainda era muito inexperiente.
Seus filhos também têm talento para o desenho? Você quer que eles sejam mangakás?
Meus filhos já têm talento, mas não sei se eles querem se tornar mangakás.
Esta é sua primeira vez na Alemanha? Você gostou até agora?
Vinte anos atrás, estive em Hockenheim para uma corrida de Fórmula 1. Naquela época, todos foram legais e prestativos comigo e eu tive uma impressão muito boa da Alemanha.
Se você tivesse que dar uma dica para ilustradores novatos, o que diria?
Claro que faz sentido no começo copiar o mangá japonês, mas os artistas de mangá alemães devem desenvolver seu próprio estilo e incorporar elementos específicos do país. Com o passar do tempo, os leitores alemães vão preferir o mangá alemão aos japoneses.
O que você faz quando não está desenhando mangá?
Eu realmente gosto de construir modelos. Além disso, costumava andar de moto.
Existe alguma diferença entre seus fãs japoneses e alemães?
Não notei nenhuma diferença. Os fãs alemães são tão loucos por mangá quanto os japoneses.
Quais são seus planos para o futuro?
Honestamente, desenhar mangá me esgotou tanto física quanto mentalmente no ano passado. Tenho estado mais focado em design gráfico ultimamente, mas alguma hora quero desenhar um super mangá!
Agradecemos pela entrevista, Toriyama-sensei.
NOTA: Todas as informações aqui providas são de total crédito de Derek Padula, que traduziu primeiramente para o inglês. Segue sua postagem original:
https://thedaoofdragonball.com/blog/history/akira-toriyama-lost-interview-in-germany/
Shikishis (ilustrações autografadas) que Akira Toriyama fez para o evento:
EXTRA:
Foto de Akira Toriyama, retirada na ocasião sem o seu consentimento, mas que se tornou uma de suas últimas fotos conhecidas.