Weekly Shonen Jump nº33 de 2018 (14 de julho de 2018)
COMEMORAÇÃO ESPECIAL DO 50º ANIVERSÁRIO DA WEEKLY SHONEN JUMP
CONVERSA DEFINITIVA ENTRE AKIRA TORIYAMA & TAKEHIKO INOUE
Oito Páginas dessa Entrevista de Ouro
Bam! Os autores super lendários da Weekly Shonen Jump se sentam e revelam histórias de bastidores dos dias em que suas séries eram um sucesso. Os dois autores desenharam uma ilustração para nós. Suas mãos ainda se lembram de como desenhar seus personagens principais.
Entrevista por: Ogenki (Omu Curry)
Fotos por: Hiroko Kikuchi
Para comemorar os 50 anos da Jump, estas duas lendas do mangá sentam-se juntos pela primeira vez.
Shonen Jump: Estou ansioso pela nossa conversa de hoje! Vocês dois já tiveram a chance de se sentarem assim anteriormente?
Toriyama-sensei: Essa é a primeira vez?
Inoue-sensei: Sim. Estou nervoso! (risos)
SJ: Aqui está a reimpressão da edição da Jump que mais cópias vendeu. Inclui um incrível grande pôster de dois lados, feito pelo Toriyama-sensei, e ela abre com um capítulo totalmente colorido feito pelo Inoue-sensei.
Inoue: Saiu em 1995.
SJ: Fazer um manuscrito inteiramente colorido para uma serialização semanal deve ter sido uma quantidade incrível de trabalho. Os leitores ficaram emocionados, mas como foi para vocês?
Inoue: Realmente foi muito trabalhoso, mas eu não achei horrível.
SJ: E quanto a você, Toriyama-sensei?
Toriyama: Foi realmente exaustivo!
(Todos riem!)
Toriyama: As páginas coloridas foram entregues antes das páginas em preto e branco para o capítulo que saiu na edição anterior.
SJ: Hã? Isso não atrapalhou seu cronograma?
Toriyama: Eu tive que finalizar dois capítulos simultaneamente, então tinha que prever os eventos de um capítulo que ainda não tinha desenhado, e então desenhar o próximo, ou ficaria atrasado. Portanto, tive que calcular quão longe a história teria avançado conforme trabalhava nisso.
SJ: Deve ter sido especialmente difícil, já que seus storyboards eram também seus esboços preliminares. Estou impressionado!
Toriyama: Bem, você sabe como meu editor era! (risos)
Inoue: Kazuhiko Torishima foi o primeiro editor de Dragon Ball?
SJ: Sim, ele foi o modelo para o Dr. Mashirito e, depois, se tornou o editor-chefe da Jump.
Toriyama: Torishima-san disse que eu tinha que fazer dois capítulos em uma semana ou ficaria atrasado, então eu respondi que mal conseguia mexer minhas mãos, devido a uma inflamação nos tendões. Ele me disse para tentar escrever meu nome, e eu disse: “É claro que consigo escrever meu nome!”. E então ele me respondeu: “Se você consegue escrever seu nome, então consegue desenhar mangá!” Que tipo de lógica é essa?! (risos)
Inoue: Uau. Ele realmente era assim?
Toriyama: Sim, realmente era! Certo? (olha para o editor atual)
Inoue: Pensei que talvez fossem rumores que cresceram exageradamente, mas eram verdade! (risos) Então, esse é o nosso tópico de discussão de hoje! (risos)
SJ: Quão exigente o editor era? (risos) Não, vamos falar sobre mangá (risos)
TAKEHIKO INOUE:
Seu mangá, Slam Dunk, que foi serializado por seis anos, começando em 1990, instigou um boom no basquete por todo o Japão. Uma nova versão encadernada está agora à venda no Japão.
AKIRA TORIYAMA:
Fez sua estreia nos mangás em 1980, com Dr. Slump. Em 1984, começou Dragon Ball, que continua a ser amado ao redor do mundo até hoje.
Admiração pelo trabalho um do outro.
SJ: Gostaria de perguntar sobre suas impressões a respeito da arte e obra um do outro. Inoue-sensei, você era um fã de Dragon Ball, não era?
Inoue: Sim, completamente. Quando perguntado, eu diria que Dragon Ball era meu mangá favorito.
Toriyama: Que honra!
Inoue: Quando comecei Slam Dunk, considerava Dragon Ball o padrão definitivo nos mangás. Ele tinha o domínio absoluto.
SJ: Slam Dunk começou sua serialização 6 anos depois de Dragon Ball.
Inoue: Dragon Ball era incrivelmente forte na pesquisa dos leitores! (risos) Meu editor constantemente me lembrava disso, então eu tinha uma forte impressão sobre ele.
SJ: Eu tenho essa imagem do Toriyama-sensei, sempre correndo bem à frente do bando.
Toriyama: Não, isso não é verdade, nem um pouco! Quando Dragon Ball começou sua serialização, Torishima-san reclamava que eu sempre estava rankeado nos dois digitos.
Inoue: Realmente existiu uma época assim? (risos)
SJ: Toriyama-sensei, o que você achava de Slam Dunk naquela época?
Toriyama: Na verdade, eu não lia muito a Jump, mas Torishima-san dizia que Slam Dunk era incrivelmente popular e tinha uma arte incrível. Então eu verifiquei e pensei que era realmente boa.
Inoue: Me sinto humilhado. (risos)
Toriyama: Acho que ter um senso para os mangás é a coisa mais importante, e eu pude sentir isso em seu trabalho. Pude ver porque era tão popular. Eu também penso isso sobre One Piece e Naruto.
Discutindo o mangá.
SJ: Você pode sentir que estas séries têm uma certa qualidade.
Toriyama: O senso de Inoue-sensei para ilustrações não é algo que você pode adquirir através da prática. Você pode conseguir uma habilidade para designs através do estudo, mas quando se trata de senso, algumas coisas estão fora de alcance. É quase como se você tivesse nascido com isso.
Inoue: Para você, a personificação do senso ilustrativo, dizer que é…
Toriyama: Eu não sou a personificação do senso ilustrativo! De maneira nenhuma! (risos)
SJ: Vocês dois, deuses dos mangás, se rebaixam um para o outro. Mas se você gastar muito tempo na arte, não fica difícil gerenciar seu tempo ao longo da semana?
Inoue: Nem um pouco. Havia vezes em que eu fazia os storyboards em apenas algumas horas.
SJ: O quê?! Em poucas horas?!
Inoue: Mas eu tinha muito trabalho quando comecei e durante o último ano da minha serialização. Quando cheguei na partida contra o colégio Sannoh, pensei que terminaria a obra ali. Porém, comecei a ter todo tipo de ideias para mais coisas que queria incluir, então diminuí o ritmo. Mas estes são os únicos momentos que me lembro de terem sido difíceis. No início, minhas ilustrações eram horríveis, mas conforme continuei trabalhando, fui capaz de desenhar mais coisas e me diverti na maior parte delas.
Toriyama: Sua arte era incrível desde o começo! (risos)
Inoue:: Não, nem um pouco! Até Slam Dunk, nunca tinha desenhado um pé descalço!
Toriyama: Quando eu comecei, nem mesmo entendia sobre músculos e articulações. Conforme desenhava, pensei: “Argh, vou apenas falsificar!”
Inoue: (risos) Eu também não entendia sobre corpos nus e músculos. Não no início, em todo caso.
SJ: Vocês aprenderam conforme as séries progrediram.
Inoue: Sim. Gradualmente e aos olhos do público. Eu sempre te admirei, Toriyama-sensei. Sabe como você desenhava animais imaginários para as páginas de título? Eu amava isso. Suas ideias eram incríveis. Você deve amar mechas e animais.
Toriyama: Sim. Não havia muito o que fazer para se divertir no interior, então eu li livros de referência sobre animais, pássaros e peixes até as páginas caírem. Eu era pobre e não podia comprar um animal de estimação, então desenhei os animais que eu queria. Não conseguia desenhar corretamente, então os falsificava e desenhava com um estilo mangá.
Inoue: Não, não, não, não! (risos) Eles eram a perfeita mistura de fofo e legal. Eu era louco por eles. E o seu senso pra colorir me fez querer copiá-lo!
O segredo da colorização de Toriyama-sensei, que impressionou muito o Inoue-sensei!
Toriyama: Aquelas cores vinham dos marcadores Sign Pen, sabe! (risos)
Inoue: Exato. Você não usava o líquido ao diluir as Sign Pens? Li um artigo sobre isso em algum lugar. Eu era um estudante na época, mas copiei sua técnica.
SJ: Você copiou aquela técnica?!
Inoue: Me perguntei como seria usar a tinta diluída das Sign Pens, por isso, usei um pincel molhado para espalhar as linhas que tinha desenhado no papel. Então, em algum lugar de Dragon Ball, foi mencionada a tinta Luma.
Toriyama: Oh! Aquela tinta colorida!
Inoue: Sim. Eu li que você estava usando aquela marca. As cores em Dragon Ball eram vibrantes, e pensei que eram incrivelmente legais, então procurei pela tinta Luma, mas não consegui encontrar em lugar nenhum.
Toriyama: Não estavam sendo vendidas amplamente naquela época.
Inoue: Me perguntava onde você tinha comprado.
Toriyama: Minha esposa é uma autora de mangás shoujo, então usei uma conexão dela.
SJ: Toriyama-sensei, por que você usou o líquido da diluição das Sign Pens para colorir?
Toriyama: No início, eu não tinha dinheiro para comprar tintas coloridas de várias cores. Não havia compras online na época, então não conseguia obtê-las morando no interior. Mas se eu fosse na papelaria do bairro, um conjunto de Sign Pens com 12 cores era realmente barato. E isso me parecia ser suficiente.
Inoue: Oh, entendo…
Toriyama: Mas por causa disso, as cores em meus primeiros manuscritos gradualmente desbotaram! (risos)
Inoue: A cor eventualmente desbota. É difícil comprar os materiais de artes corretos.
Toriyama: Eu que o diga! Não se vendem muitas retículas (folhas adesivas transparentes, impressas com padrões para aplicação de texturas e sombreamento em ilustrações de mangá) no interior. Então é por isso.
SJ: É por isso?
Toriyama: Essa é a minha desculpa pra não usar retículas. (risos)
Inoue: Pensando bem, eu não via muito delas em seus trabalhos.
Toriyama: Recortá-las e aplicá-las é difícil, então eu apenas dizia que não usava porque não conseguia comprá-las! (risos)
As razões chocantes pela qual essas lendas escolheram a Jump.
SJ: A propósito, existe uma razão pra vocês terem escolhido trabalhar na Jump? Toriyama-sensei, você primeiro.
Toriyama: Desculpa, mas… hm, eu estava trabalhando como designer e, depois de sair da companhia onde trabalhei, tinha tempo livre e comecei a frequentar cafeterias.
SJ: Você já esteve desempregado?!
Toriyama: A cada dia, eu leria cada uma das revistas, e a última que peguei foi a Shonen Magazine. Não tinha o hábito de ler mangás, então eu a deixei pro final. E a Shonen Magazine estava recrutando novos autores. O prêmio era algo em torno de 500 mil ienes. Eu não tinha um emprego, então pensei: “Opa! Preciso dessa grana!!”.
Inoue: (risos) Toriyama-sensei definitivamente deveria ter sido o último a responder! (risos)
(Todos riem!)
SJ: Levando em conta como essa conversa está se desenrolando, escolhi a ordem errada (risos)
Inoue: Isso é hilário! (risos)
Toriyama: Então eu trabalhei tão duro quanto pude na minha obra de inscrição. Quebrei a cabeça lembrando de minhas memórias de infância sobre como os mangás eram. Mas perdi o prazo e a próxima chamada para inscrições seria apenas meio ano ou um ano depois. Justo quando estava pensando sobre o que faria, a Shonen Jump começou a pedir mangás todos os meses.
SJ: Agora a Jump entra em cena.
Toriyama: O prêmio era de apenas 100 mil ienes, mas eu tinha desenhado algo, então pensei que deveria enviá-lo. E foi assim que aconteceu. Embora não me faça parecer muito legal (risos) Mesmo se eu tivesse conseguido os 100 mil ienes, eu não queria realmente desenhar mangás! (risos)
Inoue: Você ganhou algum prêmio?
Toriyama: Não. Contudo, meu avaliador, Kazuyoshi Torii (autor de Toilet Hakase) ressaltou que eu estava perto. Então fiquei determinado a continuar tentando até ganhar algo.
SJ: Fascinante! (risos) Inoue-sensei, posso te perguntar sobre seus dias de inscrição?
Inoue: Como um estudante ginasial, comecei a ler revistas para meninos e a Shonen Jump, quando Ring ni Kakero era popular. A partir desse momento, eu era um leitor da Jump e da Spirits. Eu considerei primeiro a Spirits para minha inscrição e não estava pensando em escrever para a Jump. Então, pensei que uma revista para meninos deveria vir primeiro e enviei um manuscrito para a Jump. Eu ainda era um estudante pobre e nem tinha um telefone, então me lembro que havia uma tonelada de telegramas de um editor presos na caixa de correio da porta do meu apartamento. (risos)
SJ: Essa foi a primeira vez que seu trabalho chegou aos olhos de alguém.
Inoue: Não estava esperando muito, mas pensei que poderia haver algo lá, então fiquei satisfeito.
SJ: Foi um tempo depois, mas você se lembra de quando conseguiu sua primeira serialização?
Inoue: Sim, me lembro. Depois de ganhar o Prêmio Tezuka, estava de bom humor e comecei a trabalhar nos storyboards para várias séries. Algumas vezes, não consegui passar das reuniões, mas quando finalmente passei, fiquei muito feliz. Juntos, meu editor e eu finalmente alcançamos resultados.
SJ: Entendo. E quanto a você, Toriyama-sensei?
Toriyama: Sim, me lembro também. Eu estava feliz, mas ainda mais preocupado que poderia não ser capaz de lidar com uma série, já que um único capítulo tinha levado muito tempo.
Inoue: Dr. Slump tinha 15 páginas, não é? Quanto tempo levava para desenhá-lo?
Toriyama: Eram 13 páginas, e levava cerca de sete dias. Eu não sabia sobre contratar assistentes, então fazia sozinho no começo. Logo percebi que seria impossível e disse isso para o Torishima-san. Ele falou que não seria um problema, porque se fosse chato, terminaria em dez semanas. E isso tirou um peso de minhas costas, porque pensei que teria que aguentar por apenas dez semanas. Dragon Ball não foi popular o suficiente por dez semanas, mas ainda assim não terminou.
(Todos riem!)
SJ: Dr. Slump durou quatro anos e meio.
Toriyama: Exato. A série continuou. Foi difícil, então Torishima-san perguntou se deveríamos recrutar ajuda. Contratamos uma pessoa jovem na área que fosse habilidoso em artes, e isso tornou as coisas mais fáceis.
Inoue: Quantos assistentes você contratou?
Toriyama: Tive um assistente para o estúdio. E depois um substituto.
Inoue: Apenas dois?!
Toriyama: O primeiro trabalhou até a segunda metade de Dr. Slump e o segundo trabalhou até quase o final de Dragon Ball. E então, aquele assistente saiu. Dragon Ball estava se encerrando em breve, então pensei que poderia lidar com o resto por mim mesmo. Mas pedi à minha esposa para preencher as áreas em preto, e assim por diante.
Inoue: Incrível!
Toriyama: Mas a qualidade se reflete nos números baixos! (risos) Eu não gosto de usar ou ser usado pelos outros. Se tenho tempo para dar instruções, é mais rápido fazer eu mesmo.
Inoue: Eu apenas chamava meu assistente uma vez por semana.
SJ: Inoue-sensei, quantos assistentes você teve?
Inoue: Normalmente, cerca de quatro.
Toriyama: Hã? Você alcançou aquele alto nível de qualidade com apenas quatro pessoas?!
Inoue: A qualidade não era tão alta. (risos) Nem um pouco, comparado ao seu trabalho.
Toriyama: Não, não! (risos)
SJ: Lá vão vocês, de novo…
Interagindo com os leitores e aconselhando a nova geração.
SJ: Enquanto suas séries eram publicadas, vocês receberam cartas de fãs. Algumas delas eram interessantes?
Inoue: Uma vez, recebi uma carta de fã em tinta preta em algo como papel de caligrafia, e pedia para um certo personagem aparecer e jogar por Fukui.
Toriyama: Um pedido de personagem?
Inoue: O leitor forneceu uma ilustração, nome e descrição. (risos) Em Fukui, o colégio Hokuriku é bom em basquete, mas estava escrito “colégio Hori”. E dizia que o ás era esse cara chamado Steve Otaki.
(Todos riem!)
Inoue: Não sei por que, mas ele tinha um Moicano. (risos) Por alguma razão, ele era engraçado. (Abre um mangá)
Toriyama: Você o colocou na obra!
Inoue: Uma cena da competição interescolar. O único personagem com Moicano aparece, e o time vence a primeiro rodada.
SJ: Embora a série não estivesse pedindo por ideias de personagens… (risos) Mudando o tópico, quando eu li seus mangás, pensei que o layout dos quadros fluíam muito bem. Vocês tinham algo em particular em mente com relação a isso?
Inoue: Toriyama-sensei é um verdadeiro livro didático quando se trata de layouts de quadros. Eles são fáceis de ler e a ordem dos quadros é limpa. Se os leitores estão confusos, isso estraga a experiência de leitura.
Toriyama: Eu não tinha nada específico em mente, mas tentei incluir quadros que atrairiam os olhos dos leitores quando eles abrissem as páginas. E Torishima-san sempre me disse para desenhar de modo a sempre ficar claro quem estava fazendo o quê. É por isso que sempre tentei incluir planos mais abertos. Os personagens ficam menores, mas você consegue identificá-los por suas características, como o cabelo bagunçado de Goku.
Inoue: A propósito, havia uma razão para usar ladrilhos na arena do Torneio de Artes Marciais?
Toriyama: Sim! Eu tinha uma razão pra isso! Me lembro de pensar que seria conveniente, porque eu poderia simplesmente deixar para o meu assistente e isso faria a posição dos lutadores mais clara e proporcionaria uma sensação de velocidade.
Inoue: Os ladrilhos sozinhos já fornecem uma sensação de profundidade, então eu pensava que era incrível. As tábuas de madeira de um ginásio são longas e estreitas, então se minhas instruções para meus assistentes não fossem claras, o ginásio poderia ter acabado parecendo lateral ou algo assim.
Toriyama: Mas parece que foi difícil para meu assistente desenhar os ladrilhos. Então eu os fiz ser destruídos rapidamente. Se meu único assistente ficasse preso em relação ao cenário, meu trabalho terminaria primeiro e eu teria que limpar as partes a lápis – o que era surpreendentemente cansativo.
(Todos riem!)
Inoue: Apagar tudo aquilo faz seus braços se cansarem!
Toriyama: Eu tive a ideia para a transformação Super Saiyajin de Goku porque pintar seu cabelo sempre era um saco.
Inoue: (risos)
SJ: O objeto que parece um demônio, na entrada do Torneio de Artes Marciais, se quebra muito rapidamente também. Uou, estamos realmente fora do tópico dos layouts dos quadros! (risos)
Toriyama: Falando em quadros, novos autores usam um monte de planos explosivos, mas você tem que ser cuidadoso com isso, senão os leitores ficarão entediados. Mesmo se os personagens estiverem na mesma conversa, penso que é melhor introduzir mudanças entre planos longos e planos fechados, e assim por diante, para tornar a leitura mais fácil.
SJ: Apesar de estarem ocupados, vocês desenvolveram várias técnicas. Durante o tempo em que estavam publicando, as vendas dos mangás subiram rapidamente. Vocês estavam cientes de toda a empolgação e energia?
Toriyama: Talvez porque eu estava no interior, não tinha um senso tão aguçado sobre isso.
Inoue: Sim. (risos) Mesmo que as capas dissessem que estava estabelecendo recordes, eu não percebia totalmente.
Toriyama: No fim das contas, não é como se eu fosse mudar a história só porque as vendas aumentaram.
Inoue: (risos)
SJ: Você não mudaria suas ações?
Inoue: Por exemplo, aumentar repentinamente o número de linhas em uma ilustração.
(Todos riem!)
SJ: Então qual foi sua motivação?
Toriyama: Não estou certo…
Inoue: Houve um tempo em que, quanto mais desenhava, melhor ficava, então talvez eu estivesse apenas feliz em melhorar. Essa felicidade estava ligada a como o Hanamichi estava se sentindo.
SJ: Como se você fosse o protagonista de um mangá. A propósito, que impressões vocês têm da Jump atualmente?
Toriyama: É uma revista de mangás onde jovens autores estão ativos e tem bastante de energia.
Inoue: Não importa a época, a Jump tem o mangá mais importante que está fazendo as pessoas dizerem: “Incrível!” Sempre tem as próximas grandes coisas.
SJ: Obrigado! Bem, já é hora de encerrar nossa conversa. À medida que a Jump cruza o limiar dos 50 anos, vocês poderiam dizer algumas palavras sobre esta revista, conforme ela dá o próximo passo adiante, para os novos autores que desejam uma futura publicação na Jump?
Toriyama: Bem, os tempos mudaram, mas pensei em algo recentemente quando fui um dos jurados para o Prêmio Tezuka. É legal que autores aspirantes a mangakás sejam influenciados por seus autores favoritos, mas gostaria que eles tivessem orgulho e adicionassem um pouco da originalidade que apenas eles podem prover.
Inoue: Sim, definitivamente.
Toriyama: Acho que tenho o sentimento de que, enquanto a qualidade dos trabalhos em si está aumentando, individualidade e orgulho nos próprios trabalhos estão diminuindo. Eu gostaria de me deparar com um mangá que me fizesse pensar: “Este autor deve ser louco!”
Inoue: Não leio muitos mangás hoje em dia, então eu não deveria falar como se soubesse de tudo, mas acho que existe uma tendência em ver a Jump como o objetivo final. Contudo, não é de forma alguma o objetivo final. Em vez disso, deveriam vê-la como um lugar para apresentarem seus trabalhos. Algumas pessoas pensam que aparecer na Jump, por si só, possui valor, mas não estou tão certo disso.
Toriyama: Ah, sim.
Inoue: A Jump não é o local de trabalho de um autor, certo? Eu só quero que continue assim.
SJ: Muito obrigado! Chegamos ao final da nossa conversa. E muito obrigado aos nossos leitores!