Análise The Tale of Bistun
Desenvolvido pelo estúdio iraniano Black Cube Games, The Tale of Bistun é um jogo de ação e aventura que mistura elementos da mitologia persa com uma narrativa envolvente, inspirada no poema épico medieval Khosrow e Shirin. O título apresenta uma história que mescla amor, sacrifício e redenção, utilizando a simbologia da cultura persa para dar um toque único à sua proposta. sem parecer uma anedota de uma novela temática árabe da Globo. Ao longo do jogo, o jogador acompanha Farhad, um escultor que acorda amnésico no Monte Behistun, em busca de recuperar suas memórias e enfrentar forças do mal, aquele clichezão que todo mundo gosta, desde que bem feito, o que é o caso. A história se desenvolve em ciclos que misturam exploração de cenários e combate, com uma narrativa guiada por um narrador onisciente, que frequentemente fornece contexto e detalhes sobre a jornada do protagonista.
A trama central gira em torno de Farhad e sua missão para liberar árvores de romã corrompidas pela maldade, simbolizando, de forma mais profunda, um processo de cura e recuperação de sua identidade. Ao longo do caminho, ele é acompanhado pela ave Hoopoe, uma figura mitológica importante no contexto persa, que o guia em sua jornada. A relação de Farhad com a mitologia persa se reflete em diversos aspectos do jogo, com elementos da história de Khosrow e Shirin sendo inseridos ao longo da aventura. A utilização de símbolos como a árvore de romã e referências a deuses e mitos antigos ajudam a criar um ambiente imersivo, que vai além da simples ambientação histórica, permitindo ao jogador vivenciar a cultura de forma autêntica.
O jogo se destaca pela forma como retrata a mitologia persa, com um respeito notável aos detalhes históricos e culturais. Cada elemento do cenário, dos personagens aos itens, carrega uma conexão com a origem da história, evitando o uso superficial de símbolos e proporcionando uma experiência que pode ser vista como uma verdadeira imersão na tradição persa. O uso de instrumentos tradicionais iranianos na trilha sonora, como o tar, também adiciona um toque de autenticidade, reforçando ainda mais a atmosfera do jogo. A estética do mundo é encantadora, com paisagens detalhadas e variadas, desde montanhas majestosas até dimensões místicas e oníricas, que proporcionam uma forte sensação de exploração e descoberta.
Apesar dos aspectos positivos, sobretudo pela caracterização da cultura persa, o jogo não é isento de falhas. O principal ponto fraco de The Tale of Bistun está em sua jogabilidade, que, embora funcional, infelizmente é relativamente simples e repetitiva. O combate, baseado em ataques corpo a corpo e uma habilidade especial, não oferece muita profundidade ou variedade. As opções de movimentação e interação também são limitadas, com o jogador sendo frequentemente guiado ao longo de um caminho linear. Embora o combate não seja o foco principal, ele acaba se tornando uma parte importante da dinâmica do jogo, já que serve para quebrar a narrativa e dar um pouco de ritmo à história. No entanto, a simplicidade e a falta de desafio tornam as batalhas, em grande parte, monótonas, especialmente para quem busca mais complexidade no sistema de combate.
A progressão do jogo é marcada por uma estrutura repetitiva. O jogador precisa seguir um ciclo de ações: liberar árvores de romã, consumir os frutos para viajar ao Reino das Revelações e, finalmente, enfrentar os obstáculos em sua jornada. Embora esse ciclo ajude a criar um senso de ritmo, ele também pode se tornar cansativo após algum tempo, já que as atividades não variam significativamente ao longo do jogo. No entanto, a história paga o pedágio do interesse, e os desenvolvimentos da trama, especialmente os plot twists que surgem mais adiante, compensam a repetição dos primeiros momentos. E, embora o jogo tenha algumas áreas a serem exploradas, elas são em grande parte voltadas para a progressão linear, com pouco espaço para desvios ou exploração mais profunda.
Apesar de suas limitações, The Tale of Bistun é uma experiência única. A profundidade de sua narrativa, apoiada pela forte presença da mitologia persa, e o estilo visual cuidadosamente projetado, são elementos que tornam o jogo interessante, especialmente para aqueles que buscam uma história diferente e uma abordagem mais profunda da cultura persa. Embora a jogabilidade possa não ser o ponto forte do jogo, e as mecânicas simples possam deixar a desejar para alguns, o título ainda oferece uma visão rara de mitos e lendas de uma cultura que raramente é explorada no mundo dos videogames. Se você está disposto a sacrificar um pouco de complexidade em favor de uma experiência mais centrada na história e na imersão cultural, The Tale of Bistun pode ser uma boa escolha para uma curta, mas memorável aventura. Enfim, The Tale of Bistun pode ser considerado uma das primeiras grandes aventuras no mercado global com tema genuinamente persa, e a comparação indireta a Prince of Persia é mais do que pertinente.