Análise de Unknown 9: Awakening

Análise de Unknown 9: Awakening

 

Unknown 9: Awakening, da Bandai Namco e desenvolvido pela Reflector Entertainment (adquirida pela Bandai Namco em 2020), surge como uma nova franquia de ação que mistura furtividade e elementos sobrenaturais. Lançado em 18 de outubro de 2024 para PlayStation 5, Xbox Séries S/ X e PC, a proposta é parte de uma campanha transmídia, com o objetivo de expandir o universo do jogo para HQs, romances e podcasts.

O CEO da Reflector e executivo da Bandai Namco, Hervé Hoerdt, havia dado a entender que os planos eram o de criar um “universo completo”, onde cada mídia traria elementos complementares para a narrativa geral, incentivando os fãs a explorar diferentes formatos para uma experiência mais rica.

A Reflector planejava lançar outros conteúdos antes do jogo para gerar interesse, mas a Bandai Namco optou por pausar esses lançamentos até que o jogo estivesse pronto. Awakening sofreu um reinício no desenvolvimento após a aquisição, com um foco em garantir consistência na narrativa transmídia, auxiliada por uma equipe dedicada para essa tarefa, mas o próprio Hoerdt já reconhecia as dificuldades dessa abordagem transmídia.

Certo que a Bandai Namco viu o projeto como parte de uma estratégia de longo prazo para competir no segmento de ação e aventura, aproveitando a compra da Reflector para se posicionar nesse mercado. No entanto, as ambições elevadas do projeto contrastam com a recepção do jogo, que possui limitações técnicas e de design que impactam negativamente a experiência do jogador.

Desde sua apresentação inicial, marcada por uma demonstração pouco convincente na Gamescom, Unknown 9: Awakening gerou dúvidas quanto à sua capacidade de entregar uma experiência sólida. Muitos problemas de execução fazem dele um título problemático, que talvez funcione melhor como base estrutural para futuros lançamentos devidamente acertados.

O enredo de Unknown 9: Awakening acompanha Haroona, uma jovem quaestor, interpretada por Anya Chalotra, que está em uma missão de aprendizado sobre o Umbral sob a orientação de sua mentora, em uma versão alternativa da Índia de 1910. Inicialmente aprendiz de Reika, Haroona possui a capacidade de manipular o Umbral, uma força invisível e enigmática de uma civilização ancestral. Neste universo, os “quaestor” são indivíduos com a habilidade de manipular o Umbral, um mundo paralelo ao nosso, permitindo-lhes acessar e influenciar nossa realidade de várias maneiras.

Haroona rapidamente se torna o alvo dos Ascendentes, uma facção dissidente de uma sociedade secreta conhecida como LYS, que quer usar o Umbral para alterar o curso da história humana. Aliás, o título “Unknown 9” refere-se a entidades que gerenciam os ciclos de vida tanto no planeta quanto no Umbral. Então à medida que Haroona avança em sua jornada, e essa sociedade com propósitos nada nobres surge, Haroona passa a buscar vingança, ao mesmo tempo em que investiga os objetivos dessa sociedade e amplia sua conexão com o Umbral.

Embora o conceito seja interessante, a narrativa sofre com um excesso de exposição e uma apresentação de terminologias que, ao invés de enriquecerem o enredo, tornam a compreensão mais confusa.

As motivações de Haroona e de seus inimigos são superficiais e mal desenvolvidas, limitando a conexão emocional do jogador com a história. A narrativa também possui uma sensação de familiaridade exagerada, ecoando jogos como Tomb Raider e Uncharted, sem o mesmo nível de complexidade de seus personagens ou escrita. Enquanto estes jogos apresentam protagonistas que evoluem e reagem a circunstâncias com uma profundidade significativa, Unknown 9: Awakening se atém a uma história que, por vezes, parece arrastada e previsível.

O sistema de habilidades de Unknown 9: Awakening posiciona Haroona como uma personagem capaz de alternar entre furtividade e combate, utilizando poderes sobrenaturais para enfrentar inimigos. O jogo tem a ideia de poder entrar em seus inimigos para controlá-los, desviar de balas e etc.. A mecânica central do jogo envolve o uso do Umbral para se tornar invisível, controlar adversários e executar ataques de energia. Em teoria, esse conjunto de habilidades deveria proporcionar uma experiência variada e estimulante. Na prática, entretanto, as habilidades são apresentadas de forma fragmentada e com pouca flexibilidade, limitando as abordagens e exigindo pouca estratégia para avançar.

Enquanto a furtividade de Haroona oferece certa vantagem, a inteligência artificial dos inimigos é previsível e simplista, minando o desafio e tornando as táticas de combate repetitivas. As habilidades de Haroona são variadas, mas não fluem de maneira intuitiva. A introdução de inimigos mais complexos ao longo do jogo – como ninjas semi-invisíveis ou oponentes com ataques de energia – busca elevar o nível de desafio, mas apenas destaca a falta de refinamento do sistema de combate, que sofre com uma câmera que dificulta a visão, que é pouco eficaz.

Em termos de ambientação, o jogo aposta em cenários exóticos e históricos, com localizações na Índia e outros locais de atmosfera mística, um acerto visual que, no entanto, contrasta com o fraco acabamento de elementos técnicos. Embora os ambientes sejam bem desenhados, com áreas como as areias da Mauritânia, as selvas indianas e às paisagens góticas de Portugal (como destacado no marketing do jogo), a qualidade técnica flutua entre momentos de cuidado visual e animações rígidas que prejudicam a imersão do jogador. As expressões faciais de personagens, um ponto crucial para títulos que dependem de narrativa, são limitadas e, muitas vezes, desconectadas do contexto emocional.

Os problemas de câmera são particularmente frustrantes, especialmente em batalhas contra chefes. Com uma câmera que obstrui a visão em momentos de maior intensidade e uma função de mira pouco responsiva, a experiência de combate em Unknown 9: Awakening se torna cansativa e desequilibrada. Em situações de combate direto, a falta de polimento técnico se destaca e prejudica o ritmo e o impacto da jogabilidade.

O sistema de progressão de Unknown 9: Awakening inclui uma árvore de talentos que oferece ao jogador opções de desenvolvimento, mas a estrutura é básica e restritiva. A coleta de pontos para desbloquear habilidades sugere um sistema de personalização que, na realidade, oferece pouca flexibilidade. Os talentos são desbloqueados quase linearmente, sem a sensação de escolhas estratégicas significativas. A promessa de profundidade acaba se revelando uma sequência previsível de melhorias, reduzindo o interesse ao longo da experiência e contribuindo para a sensação de repetição.

Embora Unknown 9: Awakening adote algumas características de exploração, a estrutura do jogo é linear. Em comparação com outros títulos de aventura, onde o jogador pode explorar e interagir com o ambiente de forma livre, Unknown 9: Awakening restringe a progressão a áreas específicas, limitando o senso de descoberta. A presença de “paredes invisíveis” e caminhos pré-definidos enfraquece a imersão e elimina a liberdade que normalmente é associada a jogos de aventura e exploração.

Além disso, os quebra-cabeças e desafios são simples e pontuais, com poucas variações ao longo da campanha. Essa simplicidade torna a experiência previsível, diminuindo o engajamento do jogador e deixando pouco espaço para a experimentação. Ao contrário de títulos como Tomb Raider ou Uncharted, onde os quebra-cabeças são uma parte central da experiência, Unknown 9: Awakening introduz esses elementos de maneira esparsa e pouco integrada.

Unknown 9: Awakening apresenta um conceito interessante que, infelizmente, não se traduz em uma experiência de jogo coesa. A combinação de habilidades sobrenaturais com elementos de furtividade e combate poderia ter oferecido uma proposta inovadora, mas é prejudicada por uma execução técnica instável, uma narrativa derivativa e uma jogabilidade limitada. Em sua essência, o jogo parece uma tentativa de replicar o sucesso de franquias renomadas, sem alcançar o nível de polimento necessário para competir no mercado atual.

Em termos de transmídia, a ambição de expandir o universo do jogo para outras mídias parece prematura, considerando as limitações evidentes do próprio jogo. Embora Unknown 9: Awakening apresente alguns elementos únicos, eles não são suficientes para sustentar um universo expandido que envolva o público além do contexto do jogo. No final, Unknown 9: Awakening se posiciona mais como uma base para uma potencial sequência, onde o desenvolvimento e o refinamento possam corrigir suas deficiências e cumprir com as promessas iniciais que tanto atraíram a atenção do público. Pode-se chamar de protótipo de potencial não realizado.

Nota: 7,0

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