Análise de Nikoderiko: The Magical World

Análise de Nikoderiko: The Magical World

Nikoderiko: The Magical World é um jogo de plataforma desenvolvido pela VEA Games e publicado pela Knights Peak Interactive. Disponível para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X/S, Nintendo Switch e PC, o título resgata o design clássico noventista de jogos do gênero plataforma que fizeram bastante sucesso na época, como Crash Bandicoot e Donkey Kong Country. Basicamente, Nikoderiko aposta nesse gênero abandonado em meio as atuais obras faraônicas de enredos fílmicos e com jogabilidades surrealmente complicadas, usando dessa estética nostálgica e mecânicas familiares para conquistar jogadores veteranos e os novos que ainda não foram doutrinados por uma diversão à base de ultrarrealismo gráfico.

A história de Nikoderiko: The Magical World gira em torno de dois personagens principais: Niko, e sua amiga Luna, dois mangustos que muito lembram o marsupial Crash, de Crash Bandicoot. Lembram até demais. A trama começa quando eles encontram um artefato antigo enquanto exploram uma ilha mágica. Porém, pouco depois, o vilão Grimbald, membro da Cobring Gems Company, rouba o artefato e coloca em risco a segurança de todos os habitantes da ilha. Com o artefato em mãos, Grimbald ameaça destruir o equilíbrio da ilha e submeter seus moradores a sua vontade. Cabe a Niko e Luna, com a ajuda de seus amigos, recuperar o artefato e salvar a ilha, percorrendo sete áreas distintas no jogo.

Nesse ponto, a história do jogo poderia ser mais desenvolvida. O enredo é bem básico, até mesmo para um jogo que resgata o estilo popular do gênero plataforma em uma época que o enredo ficava em segundo plano. Não é necessariamente um problema, mas a falta de uma história mais envolvente pode deixar o jogo com um tom mais superficial. De toda forma, o foco de Nikoderiko é a jogabilidade.

Nikoderiko segue a fórmula tradicional de plataformas 2.5D, com alguns trechos em 3D, o que o faz se aproximar mais de Crash Bandicoot do que de Donkey Kong Country. Na campanha, é possível jogar como Niko ou Luna, mas os dois personagens possuem habilidades idênticas. O jogo possui sete mundos, cada um dividido em fases que exploram as mesmas mecânicas clássicas dos jogos já mencionados, como percursos em carrinhos de mina, algo perseguindo o jogador, e caminhos aquáticos. Apesar de ter um número bacana de níveis, eles no geral são previsíveis, com mecânicas repetitivas e com poucos momentos de surpresa.

Há também a inclusão de montarias, igual ocorre em Crash Bandicoot e Donkey Kong Country (mais frequente nesse), como dinossauros e sapos, mas seu uso parece mais para fins nostálgicos, que desperte lembranças e comparações dos dois jogos da década de 90, do que para uma utilidade real na fase em si. Embora essas montarias proporcionem algum alívio e uma certa mudança de ritmo no jogo, elas não são exploradas o suficiente para se tornarem uma mecânica realmente inovadora ou útil. Além disso, há chefes em Nikoderiko que, embora previsíveis em termos de design, são bem integrados ao fluxo de aprendizado do jogador. Lembrando que o jogo é extremamente fácil, então derrotar inimigos e chefes em Nikoderiko não exige estratégias surpreendentes, muito pelo contrário.

Embora a experiência geral seja acessível, a precisão dos controles deixa a desejar. Movimentos inconsistentes podem levar a mortes frustrantes, especialmente em plataformas mais complicadinhas. É uma imprecisão que contrasta com o padrão elevado estabelecido novamente pelas suas referências – Crash Bandicoot e Donkey Kong. Se o jogador sofria nesses dois jogos, é porque eles eram difíceis mesmo, visto que os controles eram ótimos. Nikoderiko não é difícil, mas os controles atrapalham a experiência, criando uma dificuldade artificial que não faz sentido existir em 2024, a não ser por vacilo dos programadores. Mas, mesmo com controles às vezes imprecisos, o jogo continua sendo muito fácil.

Visualmente falando, Nikoderiko é bonitinho, agradável, com um estilo artístico bem colorido, e com uma estética muito parecida com a do jogo do marsupial. Cada mundo apresenta um tema que não cansa o jogador. No geral, cada fase possui uma atmosfera única. Mas não dá pra falar o mesmo da criatividade na concepção de inimigos – ela é limitada, os inimigos são meio genéricos e sem graça, fora que muitos deles se repetem ao longo do jogo, o que acaba prejudicando aquela sensação de novidade em cada fase avançada.

A animação dos personagens é bem executada e fluida, mas, justamente por se inspirar demais em outros jogos, a arte de Nikoderiko carece de uma identidade própria. Muitos elementos visuais parecem emprestados diretamente de outras franquias, o que infelizmente torna os cenários e os personagens facilmente esquecíveis, pois cada fase só fará o jogador mais antigo lembrar do jogo do Crash ou o jogo da família Kong, que vai lembrar ou comentar sobre tal referência vista e por aí vai. Se a intenção era fazer uma homenagem ou resgatar o que havia de bom nesses jogos de plataforma antigos, a sensação que deve passar para muitos desses veteranos é que Nikoderiko é uma cópia genérica desses jogos. Por sorte, quem nunca experienciou os anos 90 nem vai se ligar nisso. De toda forma, o design geral é consistente, e o jogo acaba sendo visualmente adequado para sua proposta, a de um jogo de plataforma 2.5D.

A trilha sonora, composta por David Wise, é um dos pontos altos de Nikoderiko. Conhecido por seu trabalho em Donkey Kong Country, suas músicas combinam demais com o jogo. A escolha de Wise foi o maior acerto de Nikoderiko, e prova o quanto que o jogo quer ser lembrado como um gênero à altura do jogo do macacão da Nintendo. Por outro lado, os efeitos sonoros e as dublagens apresentam problemas. As vozes dos personagens, em especial, carecem de clareza e refinamento, parece que foram mal mixadas. A interpretação de Luna, por exemplo, soa excessivamente aguda e pode ser desconfortável para jogadores que utilizam fones de ouvido. Além disso, infelizmente, as músicas acabam se repetindo rapidamente ao longo das fases, mesmo sendo muito bem compostas.

Quanto ao cooperativo local, o jogo suporta cooperação local para dois jogadores, com uma mecânica de reviver personagens derrotados em bolhas, semelhante à de Super Mario Wonder, o que facilita o progresso e reduz aquela frustração nas fases menos fáceis. Apesar disso, a interação entre os personagens no modo cooperativo é limitada, e a jogabilidade não apresenta mudanças significativas em relação ao modo solo. Mas não que isso seja um problema.

Sobre a dificuldade de Nikoderiko, como dito, ele é um jogo fácil, projetado para ser acessível a uma ampla faixa etária. Há vários checkpoints, e como as mecânicas são simples, a progressão é relativamente tranquila, mesmo para jogadores menos experientes. Os chefes, apesar de apresentarem estratégias diferenciadas, são bem previsíveis e rapidinho se pega o jeito.

O jogo bebe também muito da fórmula de Crash Bandicoot e Donkey Kong Country com suas muitas oportunidades para coleta de itens, como gemas, chaves douradas e letras que formam a palavra “Niko”. Esses elementos incentivam a exploração nas muitas áreas escondidas no cenário, sendo boas distrações para quem é viciado em colecionar todos os itens possíveis em um jogo. É um ponto bastante positivo em Nikoderiko, mesmo não sendo inovador.

Por fim, Nikoderiko: The Magical World é um jogo de plataforma que aposta na nostalgia para conquistar jogadores, embora sacrificando sua própria identidade nesse processo. Falta refinamento necessário para se destacar entre os melhores do gênero, embora compreensível por se tratar de um jogo de uma pequena desenvolvedora. Para fãs de jogos de plataforma, Nikoderiko pode ser uma escolha satisfatória, apesar dos problemas, especialmente considerando seu preço acessível e suporte ao modo cooperativo.

Nota: 8,0

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